PASTORAL DA EDUCAÇÃO - DIOCESE DE PIRACICABA SP

"Ninguém educa ninguém, nem a si próprio, se não for à luz do Evangelho" Scards

terça-feira, 31 de março de 2015

BÍBLIA: OS LIVROS SAPIENCIAIS - VISÃO GERAL PARA OS ALUNOS DA ESCOLA DE TEOLOGIA PARA LEIGOS - DIOCESE DE PIRACICABA - PADRE FREI DEMÉTRIUS



ESTUDO DO LIVRO DE ECLESIASTES
O TÍTULO
“Eclesiastes” é uma tradução da palavra hebraica koheleth, significando “aquele que reúne a comunidade”, convencionalmente traduzida por “Pregador”. O termo “Eclesiastes” foi usado pela Septuaginta, tradução grega da Bíblia, e pela Vulgata, tradução latina.

AUTOR E DATA
Tradicionalmente, Koheleth foi identificado com Salomão devido a informações oferecidas nos dois primeiros versículos do capítulo inicial. A tradição judaica é pacifica em atribuir ao rei Salomão sua autoria. O autor se declara filho de Davi (1.1), diz ter reinado em Jerusalém (1.12), se refere a grande sabedoria (1.16) e a riqueza inigualável (2.4-9). Tudo isso leva a crer na autoria de Salomão.

Os que defendem a autoria de Salomão argumentam não haver outro “filho de Davi, rei em Jerusalém”. Deve-se, porém, admitir que a designação “filho de Davi” pode se referir a qualquer um da linhagem de Davi. Outro fator intrigante é o motivo de Salomão se valer de um pseudônimo. O estilo salomônico de seções como 2.1-11 não deixa dúvida de que o autor pretendia conduzir o leitor a pensar nas experiências de Salomão.

Contudo, alguns estudiosos acreditam que o tipo de linguagem hebraica utilizada no livro, bem como a visão negativa a respeito dos governantes nele sugerida (4.13; 7.19; 8.2-4; 10.4-7) indicam que a obra foi escrita depois do tempo de Salomão. Existem ainda outros questionamentos. Salomão, terceiro rei de Israel, alguma vez na sua história poderia ter usado o tempo passado para dizer “Fui rei em Jerusalém”? (1.12). Poderia ele ter confessado que a tentativa de ser sábio foi um fracasso? “mas a sabedoria estava longe de mim” (7.23).

Nota da Bíblia King James sobre a autoria de Eclesiastes: “seu estilo sapiencial, exclusivo é incomparável revelado nos mais antigos e reconhecidos manuscritos originais a que o Comitê de tradução da Bíblia King James teve acesso (Fragmentos do sêfer, rolo, livro de Eclesiastes encontrados nas cavernas de Qunram, no Mediterrâneo), confirmam a tradição judaica e cristã em defender a autoria solomônica desta obra”. 

Os que datam o livro da época de Salomão tendem a situá-lo por volta dos séculos VIII ou VII a.C., mas não há como precisar isso. Felizmente, a natureza atemporal da sabedoria do livro dispensa à ligação a determinada época. As descobertas arqueológicas no monte Qunram, no Mediterrâneo; as novas tecnologias e análises exegéticas sugerem a data de 935 a.C. para a primeira publicação do livro de Eclesiastes.

ECLESIASTES COMO OBRA APOLOGÉTICA E FILOSÓFICA
Eclesiastes tem sido considerado como uma obra apologética, isto é, uma tentativa de defender a fé em Deus através de respostas a argumentos negativos. Com tal peculiaridade, o livro frequentemente parece expressar uma perspectiva secular, argumentando que a vida não tem sentido. Diante de tais argumentos, o escritor chega a conclusão de que a fé em Deus é o único caminho para a realização humana. Embora os ensinamentos do livro possam ser utilizados na evangelização, a maioria dos estudiosos judeus e cristãos tem entendido que Eclesiastes é dirigido ao povo de Deus, não aos que desconhecem a Deus ou se rebelam contra Ele. O livro constitui o sábio conselho de Deus àqueles que conhecem os seus caminhos, mas acham difíceis e perturbadores.

Não é preciso sair da Bíblia para encontrar a filosofia meramente humana da vida. Deus nos deu no livro de Eclesiastes o registro de tudo o que o pensamento humano e a religião natural já conseguiram descobrir a respeito do significado e do objetivo da vida. Os argumentos do livro, portanto, não são os argumentos de Deus, e sem os registros de Deus com respeito aos argumentos do homem.

O livro é uma autobiografia dramática das experiências e reflexões de Salomão no tempo em que andou afastado da comunhão com Deus. Salomão pode ter sido sábio, mas não aplicou sua própria sabedoria. Eclesiastes tem origem no trágico pecado que Salomão cometeu ao abandonar Deus e buscar satisfação na filosofia e na ciência que se praticam “debaixo do sol”, isto é, que se baseiam em especulações e no pensamento humano. A conclusão que tudo é vaidade e aflição de espírito, por conseguinte, inevitável, e a mensagem de Eclesiastes é que a vida longe de Deus é cheia de canseira e desapontamentos.

PROPÓSITO E MENSAGEM
O autor, ao que parece, já com idade avançada e muita vivencia, avalia o mundo da forma que o experimentou entre os horizontes do nascimento e da morte. O mundo é considerado cheio de enigmas, sendo o maior deles o próprio homem. 

A grande lição pregada por Eclesiastes é: Uma vida humana que não centraliza seu prazer em Deus está destituída de propósito e sentido; não muito diferente da vida de qualquer animal. Não há nada que possa produzir mais satisfação do que Deus (2.25). Uma vez que Deus é o foco de uma pessoa, seja ela quem for e onde estiver, todas as demais bênçãos e experiências vividas, devem ser recebidas com gratidão (Tg 1.17). Tudo, em Deus, deve ser desfrutado (2.26; 11.8).

O livro contém máximas e melhores reflexões filosóficas e teológicas de um homem idoso e vivido, cuja vida, na maior parte do tempo, não tivera sentido nem plena satisfação, porque usufruía daqueles prazeres e sensações sem fé e louvor a Deus. A mensagem do livro pode ainda ser dividida em três posições:
1-    Quando se olha para a vida com seus ciclos aparentemente intermináveis (1.4) e paradoxos inexplicáveis (4.1; 7.15; 8.8), pode-se concluir que tudo é fútil, já que é impossível discernir qualquer propósito na ordem dos acontecimentos.
2-    Apesar de tudo o que nos sobrevêm, a vida deve ser desfrutada ao máximo, mediante o entendimento de que é dom de Deus (3.12-13; 3.22; 5.18-19; 8.15; 9.7-9).
3-    O homem sábio gastará o tempo da sua vida em obediência a Deus, reconhecendo que o Eterno, o Senhor, finalmente, julgará todas as pessoas (3.16-17; 12.14).

A medida que o autor olha em torno de si e examina os empreendimentos humanos, vê o homem numa corrida desenfreada atrás de uma coisa após outra, labutando como se conseguisse dominar o mundo, desvendar seus segredos, mudar suas estruturas fundamentais, romper os grilhões das limitações humanas e ser senhor de seu destino. Vê o homem correndo em vão atrás de esperanças e das expectativas, o que na realidade, é inútil correr atrás do vento (1.14; 2.11,17,26; 4.4,16; 6.9).

A vida que não se centraliza em Deus está destituída de propósito e sentido. Sem Deus, nada mais pode satisfazer (2.25). Com Deus, toda a vida e suas outras dádivas devem ser recebidas com gratidão, usadas e desfrutadas plenamente (2.26; 11.8).

A mensagem de Eclesiastes é que a vida a ser buscada é centrada em Deus. Os prazeres não satisfazem de forma duradoura. A vida oferece bons e maus momentos e não segue o padrão proposto pelo principio da retribuição. Todavia, tudo procede de Deus (7.14). A adversidade pode não ser agradável, mas pode ajudar a desenvolver a fé.

A mensagem do livro de Eclesiastes deve ser considerada como positiva e ortodoxa. Isso é motivo de controvérsia entre os interpretes de Eclesiastes, pois alguns deles percebem em suas paginas apenas pessimismo ou cinismo.

CARACTERÍSTICAS E TEMAS
Eclesiastes busca dar resposta a pergunta: Que proveito tem o homem no trabalho e na sabedoria? O trabalho e a sabedoria constituem os dois temas principais livro. Palavras como “vantagem”, “proveito” e palavras semelhantes, como “melhor” (6.9), ocorrem inúmeras vezes no texto. Outra palavra importante é, “vaidade”, colocada no sentido de inutilidade. Essa palavra-chave é usada no tema que emoldura o livro (1.2; 12.8), que em cada caso é acompanhada por um poema relacionado ao tema (1.3-11; 1.7 – 12.7). Afora essas estruturas literárias obvias, não se tem chegado a um consenso quanto a estrutura básica do livro. Suas tendências conflitantes de otimismo e pessimismo dificultam a compreensão da intenção geral do livro. Contudo, os blocos de material que o compõem referem-se em grande parte a esses dois temas.

A conclusão de Salomão de que a morte faz com que toda a sabedoria e trabalho humano sobre a face da terra (debaixo do sol) sejam em vão não significa que as pessoas devam abandonar a sociedade e a cultura e passar a viver uma vida ascética.

O âmbito da criação discutido em Eclesiastes é indicado pelas expressões sinônimas “debaixo do sol”, “debaixo do céu” e “na terra”. A afirmação de Salomão de que tudo é fútil não se aplica à realidade transcendente do céu; não há nenhuma contradição entre Salomão e Paulo. Quaisquer tesouros que os descendentes de Adão ajuntarem na terra serão tirados, mas o esforço celestial realizado través do Segundo Adão, que venceu a morte, nunca é vão (ICo 15.58).

GÊNERO LITERÁRIO
Como vários outros livros poéticos, Eclesiastes contém gêneros literários diversos. Ele usa alegorias, adágios, metáforas, provérbios, entre outros. Além de identificações de gênero existem várias obras literárias do Antigo Oriente Médio que abordam situações em que a sabedoria convencional é considerada incoerente com a realidade. Certamente, esse era o caso de Jó e de seus equivalentes no Antigo Oriente Médio. Embora a literatura não rejeite a sabedoria, ela apresenta suas limitações e insuficiência.

CITAÇÕES DO PREGADOR
Espalhar e juntar pedras (3.5). As pedras de um campo eram retiradas para que o agricultor pudesse usá-lo com objetivos agrícolas. Costumava-se atirar pedras no campo de um inimigo para que as plantações fossem prejudicadas.

Todos vão para o mesmo lugar (6.6). Na visão israelita a escolha não era céu ou inferno, mas vida ou morte. Este versículo fala sobre o destino humano e, portanto, o lugar aonde todos iam era o Sheol, a habitação dos mortos.

Pão sobre as águas (11.1). O texto sugere que uma boa ação espontânea não é garantia de reciprocidade, mas a certeza de que o que vai sempre volta.


CONCLUSÃO
Depois de várias observações judiciosas, o pregador volta ao seu assunto principal: exorta o jovem a regozijar-se na sua mocidade, a viver alegre no seu coração, porém sujeito às leis da sabedoria; exorta o jovem a que se lembre do seu Criador nos dias da sua mocidade, termina com esta sábia e piedosa sentença: "Teme a Deus e observa os seus mandamentos; porque isto é tudo do homem. Porque Deus fará dar conta no juízo de tudo quanto se comete, seja boa ou má essa coisa qualquer que for" (11.9 - 12.14). Com esse argumento o pregador apela para o relacionamento do homem com seu Deus, até onde permitir o conhecimento que dele tem pela natureza e pela existência.

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 O Cântico dos Cânticos
1. Introdução
Quero concluir este caderno sobre a liberdade para amar, como nos é dada pela visão franciscana da castidade, recordando o livro bíblico do Cântico dos Cânticos. Porque viver a castidade é um cântico, é transbordar de júbilo.
A pessoa que soube acolher o dom da liberdade para amar descobriu que a vida tem um sentido muito bonito. Viu que Deus está sempre vindo ao seu encontro: em cada objeto, em cada planta, em cada animal, em todos os acontecimentos mas, principalmente, em cada uma das pessoas que vai entrando em nossa vida. Tudo canta o Deus que nos ama.
A Bíblia encontrou esse símbolo do amor entre o homem e a mulher como a melhor maneira de falar do amor entre Deus e o seu Povo, entre Deus e cada um de nós. Por mais pálido e insuficiente que seja, é um símbolo válido de toda a intimidade que Deus quer ter conosco.
Por isso, quem o descobriu vive cantando. E, segundo o livro do Apocalipse, vai continuar seguindo o Cordeiro, Jesus Cristo, onde quer que ele vá por toda a eternidade, cantando a alegria sem fim. O Apocalipse fala de "cântico dos virgens". Não são os que não se "sujaram" no contato com mulheres, como poderia fazer crer uma leitura literal, mas os que souberam deixar todo espaço para Deus que vinha ao seu encontro. São os que se deixaram encontrar pelo Libertador.
2. O livro dos Cantares
"Cântico dos cânticos" quer dizer o cântico por excelência. No sec. I depois de Cristo, quando os judeus discutiram se esse livro devia mesmo constar na Bíblia, pois havia quem o lesse como obsceno e indecoroso, um rabino chamado Akiba disse que "o dia em que foi composto o Cântico dos Cânticos valia mais do que qualquer coisa deste mundo".
De fato, teve a preferência dos grandes místicos, como São Bernardo e São João da Cruz e expressou de uma maneira muito bonita uma das idéias centrais da Bíblia, no Antigo e no Novo Testamento: a de que Deus nos ama como um esposo.
Considerando-o materialmente, ele deve ter sido composto pela reunião de trechos de diversos cânticos de casamento tanto da Palestina como da Babilônia e do Egito. É uma espécie de diálogo entre um noivo e uma noiva, intercalado às vezes por comentários de grupos de amigos do esposo ou companheiras da esposa. Os dois exaltam o amor, mas mais do que tudo os dotes físicos um do outro.
Numa leitura espiritual, ele fala de Deus. Está repleto de símbolos, mas é preciso alertar que, mais do que uma alegoria (em que pedacinho por pedacinho pode querer estar dizendo alguma coisa simbólica) ele é uma parábola (em que o importante é o sentido geral). Nesse sentido parabólico, o Cântico foi escrito para falar do amor de Deus-Esposo por Israel, o Povo que Ele assumiu como esposa. Só que o sentido mais pleno seria entendido apenas depois do Novo Testamento: é o amor de Jesus Cristo pela Igreja, é o amor entre Deus e cada um de nós.
Eu diria que esse livro é o cerne da Bíblia, porque a Bíblia é a comunicação do amor de Deus. Nós só ouviríamos falar disso claramente através de Jesus, e principalmente na Primeira Carta de São João, mas ele já estava lá, pelo menos uns quinhentos anos antes de Cristo.
Mesmo hoje, o que ele devia ensinar-nos é a clamar o que Santa Clara escreveu a Inês de Praga em 1253:
Tomara que você se inflame cada vez mais no ardor dessa caridade, ó rainha do Rei celeste! Além disso, contemplando suas indizíveis delícias, riquezas e honras perpétuas, proclame, suspirando, com tamanho desejo do coração e tanto amor: Arrasta-me atrás de ti! Corramos no odor dos teus bálsamos, ó esposo celeste! Vou correr sem desfalecer, até me introduzires na tua adega, até que tua esquerda esteja sob a minha cabeça, tua direita me abrace toda feliz, e me dês o beijo mais feliz de tua boca (4CtIn 27-32).
Todas as Cartas de Santa Clara vibram com reminiscências do Cântico dos Cânticos e nos ensinam uma prática do amor que nossa cultura parece ter perdido: amar não é lutar com pecados, é deixar-se invadir por Deus e saber saborear e fruir de todas as manifestações de sua bondade que nos convida.
3. A Bíblia ilumina
O mesmo Deus que é o Autor da Bíblia foi antes o autor do mundo. Sua revelação entregue ao Povo constitui, digamos, uma nova chave de leitura: podemos reler o que o mundo sempre nos dis-se mas com os "olhos do espírito" abertos pelo Espírito do Senhor, em vez de ficarmos simplesmente com a visão negativa que nos dá o "espírito da carne".
Foi Deus quem inventou o homem, a mulher e o amor entre eles (éros) só para que pudéssemos entender o seu Amor pelo gênero humano. Esse amor nos dá a possibilidade de entendermos que somos o povo que Deus ama como uma esposa.
As pessoas que Deus põe em nossa vida com um amor especial são a melhor experiência dele que Ele nos faz ter. Seja mãe, seja pai, seja namorado ou namorado, seja amigo ou amiga.
Se eu sou uma mulher, posso até ter uma experiência, ao ser amada por um homem, de como é que Deus me ama. Eu sei como posso amar, como posso retribuir o seu amor.
Se eu sou um homem, ao amar uma mulher, posso ter experiência de como Deus ama a nós todos. Ao ser amado por uma mulher, posso experimentar o que Deus espera de nós todos.
Todo povo é feminino diante de Deus. Toda alma é feminina diante do Esposo.
Mas todo homem pode ter uma experiência de Deus como mulher, assim como toda mulher pode ter uma experiência de Deus como homem.
Mas o amor entre o homem e a mulher nunca chega a saciar, porque é apenas uma iniciação a um amor que tem que ser muito maior, pois foi feito para ser infinito.
Quando a mulher arranca o homem de dentro dele mesmo, prova-lhe que ele nasceu para o Infinito. Quando o homem arranca a mulher de dentro dela mesma, prova-lhe que também ela nasceu para o Infinito.
Há um ponto em que podemos alcançar a saciedade: o encontro corporal. Mas há mil outros pontos que clamam que nós somos e temos que ser insaciáveis.
Mesmo que um homem encontre em uma mulher a sua companheira ideal, para todos os dias de sua vida, jamais consegue fechar-se ao encanto de todas as outras mulheres, porque todas elas são aspectos variados do Infinito que o atrai. Mesmo que uma mulher encontre em um homem o companheiro ideal para toda a sua vida, jamais conseguirá esquivar-se à atração de todos os homens, porque eles também são aspectos do Infinito.
4. O Amor infinito
O homem e a mulher enamoram-se porque encontram um no outro partes consideráveis de Infinito. E ficam com uma sede cada vez maior do Semfim.
Sentimonos limitados pelo tempo. Vamos precisar estar no "não-tempo" para que o nosso amor encontre o caminho da saciedade, ou da não-saciedade infinita.
Sentimo-nos limitados pelo espaço, pelas separações, pelos setores desconhecidos... vamos precisar de uma multidão de homens e de mulheres – no "não-lugar" – para termos uma idéia de como Deus nos ama, de como somos amados por Ele e podemos amá-lo.
Castidade é o amor que nunca se prende ao tempo nem ao espaço. Castidade é o amor que se abre em profundidade para as pessoas sem as possuir, sem querer apropriarse delas, porque a apropriação mata o amor. Castidade é conseguir beber tudo que for possível do Infinito em cada gota de amor que qualquer pessoa for capaz de nos apresentar. E toda pessoa pode apresentar um oceano, se soubermos encontrar a chave de seu coração. E todos os corações se abrem quando nós temos um coração que sabe ouvir.
Muitos santos e santas, como Francisco e Clara, já viveram uma boa amostra do Cântico (uma coisa que todas as pessoas podem provar) e uma multidão já o tem em plenitude (isso é "vida em plenitude") no não-lugar e no não-tempo, que são o céu, vivido mesmo antes da morte, porque é o encontro com Deus.
Por isso, longe de ser medo de amar, como muita gente parece pensar, a castidade é a entrega sem limites à liberdade de amar. De amar todos, de amar tudo, porque é a liberdade de amar Deus em tudo e em todas as pessoas.
Ela existe quando recebemos esse dom de enxergar por trás de tudo o amor infinito de Deus que nos busca como se fôssemos sua única criatura.
5. Dodí lí wa aní lô.
Quem decidiu ser de Deus e já fez um esforço sério para encontrá-lo, teve mil oportunidades de constatar que Deus começou a nos procurar primeiro. Sua força está nessa frase curta e transcendente que o livro do Cântico dos Cânticos repete várias vezes: Dodí lí wa aní lô - O meu Amado é meu e eu sou dele!
Vamos recordar um pequeno trecho, para amostra:
A voz de meu amado!
Vejam: vem correndo pelos montes, saltitando pelas colinas!
Meu amado é como um gamo, um filhote de gazela.
Ei-lo postando-se atrás de nossa parede, espiando pelas grades, espreitando pela janela.
O meu amado fala e me diz:
"Levante-se, minha amada, formosa minha, venha a mim! Veja: o inverno já passou! Olhe: a chuva já se foi! As flores desabrocham na terra, o tempo da poda vem vindo, e o canto da rola já se ouve em nosso campo. Despontam figos da figueira e a vinha florida exala perfume. Levante-se minha amada, formosa minha, venha a mim! (Cant 2,813).
Apesar de todos os problemas que enfrentamos cada dia em nosso mundo, Deus é aquele que não nos esquece, que está sempre mostrando os aspectos bonitos deste jardim em que nos colocou. Deus é aquele que vem despertarnos do sono para sairmos ao encontro da primavera. Ele sabe mostrar como podemos caminhar seguros no meio de todas as trevas porque aprendemos a enxergar a luz do seu rosto.
Ao ler o Cântico não podemos nos prender ao sentido material de expressões que lembram as "curvas das tuas coxas", nem " os teus seios que parecem meias romãs", ou "ao beijo mais doce de tua boca". Como ninguém de hoje pensa em elogiar o cabelo de outra pessoa dizendo que ele "parece um rebanho de cabras que saíram do banho", nem acha que uma mulher é bonita porque se parece "com a égua atrelada ao carro do faraó" e jamais vai dizer, por mais carinho que tenha, que o nariz da pessoa amada é "como uma torre". Temos que captar o conteúdo total. Se o captarmos, todos os detalhes podem até ajudar, porque teremos olhos do espírito para entende-los.
Com os olhos abertos pelo Espírito do Senhor, conseguiremos ler nas expressões idílicas do rapaz e da moça apaixonados que estão no Cântico dos Cânticos à luz da famosa página do capítulo 25 de São Mateus: Quando o menor dos irmãos de Jesus estava passando fome, Deus, o meu Amado, estava declarando o seu amor por mim. Quando tantas pessoas estão sem casa, sem trabalho, sem a dignidade de uma roupa decente, sem o respeito pela sua raça... Deus, o meu Amado, está perguntando ansioso se, de verdade, eu também sou dele.
Quando a maioria tenta me convencer de que as pessoas têm que ser avaliadas por seu dinheiro, por seu sucesso, ou execradas por suas "culpas", se eu souber deixar tudo para construir um mundo melhor nem que seja dando alguns minunutos de minha inteira e amorosa atenção a quem precisa, estarei podendo repetir com muita propriedade: "O meu Amado é meu, e eu sou dele!".
6. Uma contribuição específica
O tema tratado neste caderno não está restrito a uma dimensão pessoal (como eu vou dar conta do meu dever de castidade?) e nem à vida interna de uma fraternidade franciscana. Os seguidores de Francisco e Clara de Assis estão no mundo para fazerem as pessoas acreditarem que podemos construir uma alegre fraternidade universal. Para durar eternamente, mas que começa desde já.
Quem acredita que o Esposo-Deus já chegou na pessoa de Jesus Cristo e já está presente no mais profundo de seu coração, podendo ser olhado como aquele espelho interior em que Santa Clara ensinou a pôr a mente, a alma e o coração, leva a liberdade de amar para todos os setores da vida humana, sem se importar com a profissão que exerce ou com o tipo de pessoas que encontra.
A imensa família franciscana, que consta de tanto de religiosos e religiosas como de leigos e leigas, está presente no mundo para oferecer a todos essa alternativa de vida que teve a graça de aprender quando abriu o coração pela pobreza franciscana e acolheu o Deus de Amor que traz para dentro todos os seus filhos e filhas.
Vivemos em um mundo que segue o "espírito da carne", mas não fomos deixados nele para sermos os seus críticos e sim para despertarmos, pelo nosso testemunho, aquela sede que está sepultada mas não morta no fundo do coração de todos os seres humanos: o desejo de gritar com o Espírito: Vem, Senhor Jesus, vem! Maranathá!
6. Hino aos livres
Este caderno quer ser um hino a todos os que aprenderam a amar. A todos os que, solteiros ou casados, consagrados ou simples membros do Povo de Deus, nunca deixaram de oferecer uma alternativa palatável e bonita a um mundo que desvalorizou a palavra amor porque a envolveu em escravidões consumistas.
Estas páginas querem ser um estímulo de coragem para tantos homens e mulheres que souberam renunciar ao que era mais pessoal para se abrir ao serviço de tantos outros que ficaram sem nada.
Querem chegar ao coração dos que, às vezes, sentem-se sozinhos em momentos difíceis porque muitas pessoas nunca pensam em retribuir o amor. Construir o Reino é mesmo um parto doloroso, mas vale a pena.
Querem lembrar que foi graças à castidade oferecida como dom votivo, tanto a Deus em pessoa como a Deus em suas infinitas manifestações nas pessoas, que foi possível termos homens e mulheres que deixaram tudo que tinham para ir a outros povos, para cuidar de pobres e crianças e doentes com quem ninguém queria se envolver.
É graças a pessoas assim consagradas que muitos dos pequenos, dos excluídos e dos esquecidos puderam encontrar quem lhes desse atenção.
É claro que muita gente não os entendeu e que parecem até aumentar os que têm cada vez mais dificuldades para entende-los. Mas não importa. Quanto o Filho de Deus veio ao mundo também não foi entendido pela maioria e também realizou muito pouco se quisermos medir suas atividades pelos padrões dos sistemas de eficiência que já existiam e foram sendo exacerbados na história.
Neste hino aos que enfrentaram lutas e vivem se libertando para amar, também penso em tantos homens e mulheres que fizeram a sua consagração mas, por problemas diversos, nunca conseguiram libertar-se. Ou ainda não conseguiram libertar-se. Ou até ficaram mais presos do que antes de deixar suas famílias para buscar um caminho de Deus.
Não devem desanimar nunca, porque sempre é tempo. Nós sabemos que estamos todos em um processo de libertação. Não importa se alguns já conseguiram muito e se outros ainda estão precisando começar. O que importa é que o Deus de Amor quer que todos sejam livres para amar.
7. Propostas práticas
  1. Não se deixe levar pelo clima hedonista (do prazer só pelo prazer) e consumista (de comprar de tudo só para se consolar) tão violentamente inculcado em nossos dias pelos meios de comunicação.
  2. Não se deixe dominar pela visão moralista (que só enxerga pecados e julgamentos) que reina em alguns ambientes religiosos. Viver Deus é viver o amor e a liberdade.
  3. Você tem que ser uma alternativa nos ambientes em que vive. Seu exemplo deve convencer as outras pessoas de que é possível ao mesmo tempo ser muito livre e, justamente por isso, amar com intensidade sem abusar de ninguém.
  4. Não prenda ninguém. Anime todas as pessoas a se soltarem. Mostre como é que a gente se liberta. Nunca se esqueça de que o Filho de Deus deu a vida para que nós pudéssemos ser livres.
  5. Comece com as pessoas mais próximas. É em casa que se aprende a amar, que se ensina a amar, que se vive um amor livre de máscaras e de rodeios.
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Autor: O Livro de Jó não revela especificamente o nome do seu autor. Os candidatos mais prováveis são Jó, Eliú, Moisés e Salomão.
Quando foi escrito: A data da autoria do Livro de Jó seria determinado por quem foi o seu autor. Se Moisés foi o autor, a data seria por volta de 1440 AC. Se Salomão foi o autor, a data seria em torno de 950 AC. Já que não sabemos de certeza quem foi o autor, não podemos saber exatamente quando foi escrito.
Propósito: O Livro de Jó nos ajuda a entender o seguinte: Satanás não pode nos afligir com destruição física e financeira sem a permissão de Deus. Deus tem poder sobre o que Satanás pode e não pode fazer. Isso vai além de nossa capacidade humana de entender o “porquê” por trás de todo o sofrimento no mundo. Os ímpios vão receber o pagamento por suas ações. Nem sempre podemos culpar o nosso sofrimento e pecado em nossos estilos de vida. Sofrimento às vezes pode ser permitido em nossas vidas para purificar, testar, ensinar ou fortalecer a alma. Deus continua a ser suficiente e a merecer e desejar o nosso amor e louvor em todas as circunstâncias da vida.
Versículos-chave: Jó 1:1: “Havia um homem na terra de Uz, cujo nome era Jó; homem íntegro e reto, temente a Deus e que se desviava do mal.”
Jó 1:21: “e disse: Nu saí do ventre de minha mãe e nu voltarei; o SENHOR o deu e o SENHOR o tomou; bendito seja o nome do SENHOR!”
Jó 38:1-2: “Depois disto, o SENHOR, do meio de um redemoinho, respondeu a Jó: Quem é este que escurece os meus desígnios com palavras sem conhecimento?”
Jó 42:5-6: “Eu te conhecia só de ouvir, mas agora os meus olhos te veem. Por isso, me abomino e me arrependo no pó e na cinza.”
Resumo: O livro inicia com uma cena no céu onde Satanás aparece diante de Deus para acusar Jó. Ele insiste que Jó apenas serve a Deus porque o Senhor o protege. Satanás pede então pela permissão de Deus para testar a fé e lealdade de Jó. Deus concede a Sua permissão, mas apenas dentro de certos limites. Por que os justos sofrem? Esta é a pergunta feita depois que Jó perde sua família, sua riqueza e sua saúde. Os três amigos de Jó (Elifaz, Bildade e Zofar) aparecem para “confortá-lo” e discutir a sua enorme série de tragédias. Eles insistem que seu sofrimento é em castigo pelo pecado em sua vida. Jó, no entanto, continua a ser dedicado a Deus por tudo isso e afirma que sua vida não tem sido uma de pecado. Um quarto homem, Eliú, diz a Jó que ele precisa se humilhar e submeter ao uso de dificuldades por parte de Deus para purificar a sua vida. Finalmente, Jó questiona o próprio Deus e aprende lições valiosas sobre a Sua soberania e a sua necessidade de confiar totalmente no Senhor. Deus então restabelece a saúde, felicidade e prosperidade para muito além do seu estado anterior.
Prenúncios: À medida que Jó pondera a causa de sua miséria, três perguntas vieram à sua mente, todas as quais são respondidas apenas em nosso Senhor Jesus Cristo. Essas questões ocorrem no capítulo 14. Primeiro, no versículo 4, Jó pergunta: “Quem da imundícia poderá tirar coisa pura? Ninguém!?” A pergunta de Jó vem de um coração que reconhece que não pode agradar a Deus ou se justificar diante dEle. Deus é santo, nós não. Portanto, existe um grande abismo entre Deus e o homem que foi causado pelo pecado. Mas a resposta à pergunta angustiada de Jó é encontrada em Jesus Cristo. Ele pagou pela penalidade dos nossos pecados e trocou-a por Sua justiça, tornando-nos assim aceitáveis aos olhos de Deus (Hebreus 10:14, Colossenses 1:21-23, 2 Coríntios 5:17).
A segunda pergunta de Jó: “O homem, porém, morre e fica prostrado; expira o homem e onde está?” (Versículo 10) é uma outra pergunta sobre a eternidade, vida e morte que é respondida apenas em Cristo. Com Cristo, a resposta a “expira o homem e onde está?” é vida eterna no céu. Sem Cristo, a resposta é uma eternidade nas “trevas” onde há “choro e ranger de dentes” (Mateus 25:30).
A terceira pergunta de Jó, encontrada no versículo 14, é: “Se um homem morre, viverá outra vez?” Mais uma vez, a resposta é encontrada em Cristo. Nós realmente viveremos de novo se estamos nEle. “E, quando este corpo corruptível se revestir de incorruptibilidade, e o que é mortal se revestir de imortalidade, então, se cumprirá a palavra que está escrita: Tragada foi a morte pela vitória. Onde está, ó morte, a tua vitória? Onde está, ó morte, o teu aguilhão?” (1 Coríntios 15:54-55).
Aplicação Prática: O Livro de Jó nos lembra que existe um “conflito cósmico” acontecendo por trás das cenas sobre o qual normalmente não sabemos nada. Muitas vezes nos perguntamos por que Deus permite algo, e acabamos questionando/duvidando da bondade de Deus sem ver a imagem completa. O Livro de Jó nos ensina a confiar em Deus em todas as circunstâncias. Devemos confiar no Senhor não apenas QUANDO não entendemos, mas PORQUE não entendemos. O salmista nos diz: “O caminho de Deus é perfeito” (Salmo 18:30). Se os caminhos de Deus são “perfeitos”, então podemos confiar que tudo o que Ele faz e tudo o que Ele permite também é perfeito. Isso pode não nos parecer possível, mas nossas mentes não são a mente de Deus. É verdade que não devemos antecipar que entenderemos a sua mente perfeitamente, pois Ele nos lembra “Porque os meus pensamentos não são os vossos pensamentos, nem os vossos caminhos, os meus caminhos, diz o SENHOR, porque, assim como os céus são mais altos do que a terra, assim são os meus caminhos mais altos do que os vossos caminhos, e os meus pensamentos, mais altos do que os vossos pensamentos” (Isaías 55:8-9). No entanto, a nossa responsabilidade para com Deus é obedecer e confiar nEle, submetendo-nos à sua vontade, quer entendamos ou não.
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Sabedoria

Com o livro da Sabedoria, encon­tramo-nos no fim do AT, num mo­mento fun­damental do diálogo entre o judaísmo e a cultura grega. Neste sentido, ele é um bom predecessor do NT. Por isso, a sua língua é o grego e pertence aos chamados livros Deuterocanónicos, por se encontrar apenas na Bíblia grega e, conse­quentemente, não entrar nem no Cânon judaico (da Bíblia hebraica) nem, mais tarde, no Cânon das igrejas protestantes.

AUTOR E DATA

Atribuído a Salomão por algumas versões e manuscritos antigos, o livro da Sabedoria é certamente da responsabilidade de um autor anónimo bem distante de Salomão no tempo, que não poderá situar-se para além do ano 50 a.C. (entre 150 e 50 a.C.). Isso manifesta-se nos indícios de carác­ter literário e histórico. A atribuição do livro a Salomão, nos cap 6-9, e só implicitamente, deve-se ao facto de a tradição bíblico-judaica situar este rei na origem do género literário sapiencial, o que faz dele o Sábio por excelência (7,1-21; 8,14-16; 9; ver 1 Rs 3,5-9; 5,9-14; 10,23-61). Muito provavel­­mente, o autor foi um judeu de Alexandria, no Egipto – onde residia uma forte comu­nidade judaica – que utilizou a pseudonímia. Como fruto dessa comuni­dade, o livro está marcado culturalmente por uma forte influência helenista.
O autor conhece, por um lado, a História do seu povo e a fé num Deus sem­pre presente e pronto a intervir nela; e por outro, sente a forte atracção que as principais filosofias helenísticas e as diversas religiões exercem na vida dos seus irmãos de raça e de fé. Por isso, tenta estabelecer o diálogo entre fé e cultura grega (6-8), de modo a sublinhar que a sabedoria que brota da fé e conduz a vida dos israelitas é superior à que inspira o modo de viver dos habitantes de Alexandria. Com este livro, o autor dirige-se, pois, a dois destinatários diferentes: aos judeus de Alexandria, directa ou indirectamente perseguidos pelo paga­nismo do ambiente; e aos próprios pagãos, sobretudo aos intelectuais helenis­tas, mais abertos à cultura hebraica, intentando, porventura, convertê-los ao Deus verdadeiro.

ESTRUTURA E CONTEÚDO

Esta proposta de vida, assente na revela­ção de Deus, manifestada na História e no mundo criado, é desenvolvida em três partes:
I. A Sabedoria e o destino do homem (1,1-5,23): descreve-se a sorte diversa dos justos e dos ímpios, à luz da fé; sendo a justiça imortal (1,16), Deus reserva a imortalidade aos justos.
II. Elogio da Sabedoria (6,1-9,18): origem, natureza, propriedades e dons que acompanham a sabedoria (7,22-8,1), como personificação de Deus (ver Pr 8; Sir 24); elogio da sabedoria, elevando-a acima dos valores mais apre­ciados neste mundo.
III. A Sabedoria na História de Israel (10,1-19,22): descreve-se a pre­sença e a actividade da sabedoria em toda a História do povo de Israel com espe­­cial incidência sobre o Êxodo (11,1-19,17), em forma de midrache e de con­tras­tes, que caracterizam o estilo desta terceira parte (11,4-15,19; 16,1-4.5-14.15-29; 17,1-18,4; 18,5-25; 19,1-21). Mas o autor também mani­festa conhe­cimentos profundos de outros livros: Génesis, Provérbios, Ben Sira e Isaías. Merece um relevo especial a brilhante polémica contra a idolatria.
O estilo geral da obra inclui recursos estilísticos hebraicos (paralelismo, parataxe, comentário midráchico, alusões a motivos do AT) e gregos (abun­dância de sinónimos, adjectivação rebuscada, aliterações, rimas e jogos de palavras). Tudo isto faz do livro da Sabedoria um modelo do grego da Bíblia dos Setenta.

TEOLOGIA E LEITURA CRISTÃ

Muitos judeus seriam tentados a se­guir o cami­nho dos “ímpios” e a renegar a sua fé, tanto pela perseguição ou pelo ridí­culo a que eram sujeitos por causa das práticas dessa fé, como pela vida moral fácil que os alexandrinos levavam, em contraste com as exigên­cias apontadas pela Lei (2,1-20). Mais que uma categoria ou classe de pes­soas, os “ímpios” – que são o contraponto dos “justos” ao longo de todo o livro – per­sonificam um estilo de vida oposto e hostil, por vezes, ao que deveria constituir o do judeu crente. Esta temática pode caracterizar-se pela ideia de justiça, nos seus três sentidos bíbli­cos: como vir­tude da equidade, isto é, dar a cada um o que lhe per­tence; como cum­pri­mento perfeito da vontade de Deus; e, final­mente, como força ou acção de Deus, que nos livra de toda a espécie de mal.
O autor resolve o problema da felicidade dos justos e infelicidade dos ímpios pela retribuição ultra­ter­rena para os justos. Face a um am­biente reli­gioso, filosófico e cultural, que apresentava um estilo de vida material e formal­mente atraente, era imperioso dar razões fortes da fé, mesmo em ter­mos racionais e vitais, para que ela não aparecesse inferio­rizada como pro­posta ou estilo de vida. Por isso o autor mostra excep­cio­­nais conhecimentos de toda a Bí­blia e da vida cultural helenística.
Uma segunda ideia teológica fun­damental deste livro é a personi­fi­ca­ção da Sabedoria divina. Enquan­to, para os gregos, a sabedoria era um meio para chegar ao conhecimento e contemplação divina, para o autor, ela é uma proposta de vida, um al­guém que está presente em toda a vida e que preside à vida toda; que fala, estimula e argumenta. A sabedoria é assim porque é o reflexo da vontade e dos desígnios de Deus (9,13.17); porque partilha da própria vida de Deus e está associada a todas as suas obras (8,3-4) e tem a ver com o espírito de Deus (1,6; 7,7.22-23; 9,17); é ela que torna a religião judaica muito superior às religiões idólatras (cap. 13-15). Numa palavra, a sabedoria é um outro modo da revelação de Deus; isto é, o próprio Deus actua na História de Israel (cap. 11-12; 16-19) e no mundo criado por meio da sua sabedoria. Ela prefigura o amor e a sabedoria de Deus que culmina em Jesus Cristo, também chamado “Sabedoria de Deus” (ver 1 Cor 1,24.30).
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ESTUDO DO LIVRO DOS SALMOS
O livro de Salmos é conhecido como Saltério (nebel), lira ou harpa, uma composição de 150 textos poéticos de lamentação, súplica, louvor, ação de graças, de tempos e lugares diferentes. Essa coleção chama-se em hebraico, O Livro dos Salmos. Em grego, Psalmos, isto é, “Poemas adaptados à música”. É o primeiro e mais comprido dos livros do Hagiógrafo, a terceira divisão da Bíblia hebraica.

O livro de Salmos é um dos mais estimados e usados do Antigo Testamento e, ao mesmo tempo, um dos mais problemáticos do cânon. Questões relativas à autoria, composição, teologia, interpretação, aplicação e função contribuem para a complexidade do livro. O fato de muitos cristãos, ao longo dos séculos, terem encontrado consolo em suas páginas em tempos de necessidade, sem jamais considerar estas questões, serve de testemunho do poder de Deus de ministrar por meio dos livros das Escrituras.

Os primeiros salmos a serem agrupados, e que mais tarde dariam origem ao Saltério, foram denominados “Orações de Davi, filho de Jessé”. Outros foram compostos durante o exílio. Contudo foi durante o reinado de Salomão e o exercício do serviço litúrgico e religioso no primeiro Templo, que os salmos definitivamente passaram a fazer parte da tradição judaica.  Assim, o livro dos Salmos é a compilação de várias coletâneas da fina obra literária bíblico-canônica judaica (poemas, hinos e cânticos espirituais) e representa a etapa final de um processo que demandou séculos de história. Foram os mestres e servos pós-exílicos do Templo, entretanto, que completaram e concluíram a coletânea final de 150 salmos, ao final do século III a.C.

Os salmos refletem tanto o caráter histórico como devocional. Muitos acontecimentos da historia são apresentados: a criação do homem (8.5), a aliança estabelecida com Abraão e seus descendentes (105.9-11), o sacerdócio de Melquisedeque (110.4), Isaque, Jacó, Moisés e Arão (105.9-45), a libertação do Egito e a herança Cananéia (78.13; 105.44). Muitos outros exemplos poderiam ser citados.

DATA
Ao questionarmos a data da publicação dos salmos, uma primeira pergunta se faz necessária: de qual salmo especificamente estamos falando? Porquanto o Saltério é composto de salmos que vão desde a época pré-exílica, passando por todo o tempo de cativeiro, até o pós-exílico. O processo de descobrimento, seleção e formação da coletânea canônica dos salmos levou vários séculos, e foi concluído somente no final do século III a.C.

Considerando que metade de todo o Saltério é de autoria de Davi (ou davídicos), e que quase todos foram originados no período áureo de Israel e alguns até mais tarde, podemos datar as primeiras publicações dos Salmos por volta do ano 1000 a.C.

AUTORES DOS SALMOS
Falamos de Salmos como sendo de Davi. Ele é considerado o autor principal, dá a nota dominante, e a sua voz se sobressai às outras no coro sagrado. Mas houve outros autores além dele.

De acordo com os títulos, Davi foi o autor de 73 salmos, Asafe foi autor de 12, os filhos de Coré foram autores de 11, Salomão foi autor de 2, e Moisés e Etã foram autores de 1 salmo cada. Nenhum autor é mencionado no caso de 50 dos salmos. A Septuaginta adiciona Ageu e Zacarias como autores de 5 salmos.

Salmos de Davi: 3 a 9, 11 a 32, 34 a 41, 51 a 65; 68 a 70, 86, 101, 108 a 110, 122, 124, 132, 133, 138 a 145.
Salmos de Salomão: 72 e 127.
Salmos dos filhos de Coré: 42, 44 a 49, 84, 85, 87 e 88. Os filhos de Coré formavam uma família de sacerdotes e poetas no tempo de Davi.
Salmos de Asafe: 50, 73 a 83. Asafe era um dos principais músicos de Davi. A família de Asafe era encarregada da música de geração em geração.
Salmo de Etã: 89.
Salmo de Moisés: 90.

É provável que em alguns casos, o nome atribuído ao autor de certos salmos possa referir-se melhor ao compilador do que ao autor.

ORGANIZAÇÃO DOS SALMOS
Já sabemos que os salmos 1 e 2 servem de introdução geral ao livro e que os salmos de ligação são uteis para discernirmos o propósito do organizador. Que conclusões podem ser tiradas deles quanto ao propósito e a mensagem do organizador?

O salmo 1 traça a distinção nítida entre a conduta do justo e a do ímpio. Também fala de seus respectivos destinos. Percebemos que o organizador apresenta com precisão um dos temas principais dos salmos: o interesse pelo galardão dos justo e o castigo dos ímpios.

O salmo 2 apresenta a idéia de que Deus escolheu o rei israelita e o defendeu das conspirações dos reinos.  Apresenta-se aqui o aspecto nacional em contraste com o aspecto individual.

Esse dois níveis de mensagem (individual e nacional) unem-se em Davi. Ele representa o justo necessitado de apoio divino. Também é o rei de Israel por excelência, que representa não só Israel, mas também todos os reis sucessivos de sua linhagem. Seu amor a Deus levou o Senhor a escolhê-lo como rei e estabelecer a aliança do Reino com ele.

PROPÓSITO E MENSAGEM
Cada autor possuía um propósito especifico para compor um salmo. Os comentários mais antigos sugerem a situação histórica por trás de cada salmo, mas essa prática era altamente especulativa e não produziu resultados satisfatórios. É provável que muitas composições tenham sido feitas para suprir necessidades litúrgicas.

Devemos estar dispostos a considerar toda a gama de situações possíveis. Alguns salmos foram motivados possivelmente por acontecimentos históricos específicos, por exemplo, treze deles citam ocorrências históricas no título: 3, 7, 18, 34, 51, 52, 54, 56, 57, 59, 60, 63 e 142. Todos são da autoria de Davi. Outros devem ter sido escritos para ocasiões litúrgicas distintas. Mas alguns podem ter sido meditações pessoais. A questão é que não há propósito unificado ou mensagem identificada como uma linha de pensamento unificada nos salmos.

DIVISÕES E TÍTULOS DOS SALMOS
Na sua edição final, o Saltério continha 150 salmos. Quanto a isso, a Septuaginta e o texto hebraico concordam, embora cheguem a essa cifra de modo diferente. A Septuaginta tem um salmo a mais no fim (mas não com a numeração separada, como Salmo 151); além disso, une os salmos 9 e 10 num só salmo, e faz o mesmo com os salmos 114 e 115, dividindo os salmos 116 e 147 em dois salmos cada um. É estranho que tanto a Septuaginta quanto o texto hebraico numerem os salmos 42 e 43 como dois salmos, embora fique evidente que originariamente eram um só.

O Saltério era dividido em cinco livros (Salmos 1 a 41, 42 a 72, 73 a 89, 90 a 108, 109 a 150), cada um desses livros recebia uma doxologia final apropriada. Os dois primeiros livros eram provavelmente pré-exílicos. A despeito dessa divisão em cinco livros, o Saltério era claramente considerado uma só obra global, com uma introdução (Salmos 1 e 2) e uma conclusão (Salmos 146 a 150).

Os salmos do primeiro livro são atribuídos a Davi, exceto o primeiro, o segundo, o décimo e o 33º, que são chamados de órfãos por não se conhecerem o nome de seus autores. Na Septuaginta, os salmos que compõem o primeiro livro são atribuídos a Davi, exceto o primeiro, que serve de introdução, e o segundo. O décimo está incorporado ao nono e o 33º traz o título, “A Davi”. O nome divino de Jeová aparece geralmente nos salmos que compõem esse livro.

O segundo livro contém 31 salmos. Os primeiros oito fazem parte de uma coleção de cânticos atribuídos aos filhos de Coré. O salmo 43, quer tenha sido escrito por eles, quer não, foi composto para conclusão do salmo 42. Esse grupo é seguido de um salmo de Asafe. Vem depois de um grupo de 20 salmos pertencentes a Davi, exceto dois, o 66 e o 67; este último, porém, a Septuaginta o registra como sendo de Davi. O livro fecha com um salmo anônimo e outro salomônico, 71 e 72. Nesse livro predomina a palavra Elohim para designar a pessoa divina, e dois salmos são duplicados de outros dois do primeiro livro, nos quais a palavra Deus é substituída pela de Jeová (52, 70, cf. 14 e 40.13-17).

O terceiro livro contém 17 salmos. Os primeiros 11 são atribuídos a Asafe, quatro aos filhos de Coré, um a Davi e outro a Etã. Os salmos desse livro foram colecionados depois da destruição de Jerusalém e do incêndio do templo (74.3,7,8; 79.1).

O quarto livro contém igualmente 17 salmos, o primeiro é atribuído a Moisés e dois a Davi; os 14 restantes pertencem a autores anônimos. A Septuaginta dá 11 a Davi, deixando apenas cinco para autores anônimos, 92, 100, 102, 105 e 106.

O quinto livro contém 28 salmos anônimos, enquanto que 15 são atribuídos a Davi e um a Salomão. As inscrições diferem muito na Septuaginta. A coleção dos salmos desse livro foi feita tardiamente porque inclui odes que se referem ao exílio, 126 e 137. Observa-se pois, que a composição dos salmos demandou grande período de tempo.

Dos 150 salmos, somente 34 não tem título. Esses chamados salmos “órfãos” acham-se sobretudo do terceiro ao quinto livro, em que tendem em ocorrer em grupos pequenos: salmos 91, 93 a 97, 99, 104 a 107, 111 a 119, 135 a 137 e 146 a 150. No primeiro e no segundo livro, somente os salmos 1, 2, 10, 33, 43 e 71 não tem título e, na realidade, os salmos 10 e 43 são continuações dos anteriores.

TERMOS QUE EXPRIMEM O CARÁTER DO SALMO
Masquil: poema didático, ou refletivo.
Mictão: epigramático. Na literatura representa o gênero poético criado na Grécia e popularizado em Roma, consistente em poesias curtas (alguns poucos versos ou estrofes) de conteúdo concentrado e incisivo, de fácil memorização e agradável leitura.
Mizmor: poema lírico.
Selah (Pausa): Esse é o termo técnico que mais aparece nos salmos. Aparece setenta e uma vez em trinta e nove salmos e três vezes em Habacuque 3. Visto que é impossível determinar se a colocação da palavra é original ou foi introduzida por editores ou copistas, seu objetivo preciso permanece incerto. Dentre as sugestões para seu significado está "pausa" ou "interlúdio", indicando um intervalo no texto ou na execução musical do salmo. Também é possível que seja uma deixa para o coral repetir uma afirmação, ou para um instrumento específico, possivelmente um tambor, fosse tocado para marcar o ritmo ou enfatizar uma palavra.

CLASSIFICAÇÃO DOS SALMOS
A classificação detalhada dos salmos é de difícil definição, visto que são altamente poéticos, e um salmo pode tocar em diferentes temas. Porém podemos sugerir diversas categorias:
Salmos teocráticos: 95 a 100.
Cânticos de degraus ou de romagem: 120 a 134. Cantados provavelmente, pelos peregrinos subindo às festas anuais de Jerusalém.
Salmos de aleluia: 146 a 150.
Salmos acrósticos: 9,10, 25, 34, 37, 111, 112, 119 e 145. No hebraico a primeira letra de cada linha, ou de cada estrofe, em ordem, segue a ordem do alfabeto hebraico. No Salmo 119, cada estrofe tem 8 linhas e cada linha começa com a mesma letra hebraica da sua estrofe. Esse salmo tem 176 versículos e em todos esses versículos, a não ser em 3, menciona-se a palavra Deus. Referem-se a Palavra de Deus como: Lei, Prescrições, Caminhos, Mandamentos, Preceitos, Juízos, Decretos e Testemunhos.
Salmos messiânicos: os hinos da vinda do Messias: 2, 8, 16, 22, 45, 72, 89, 110, 118, 132 e outros.
Salmos penitenciais: 38,130, e 143.
Salmos imprecatórios: 69, 101, 137 e porções dos salmos 35, 55 e 58. Nesses salmos, Davi pede a Deus, vingança contra seus inimigos e os inimigos de Deus.
Salmos históricos: 78,81, 105 e 106.
Salmos de louvor: Os hinos são facilmente reconhecidos pelo seu exuberante louvor ao Senhor. Deus é louvado pelo que ele é e pelo seu poder e misericórdia. Salmos 8,24,29,33, 47 – 48.
Lamentos: os lamentos expressam uma emoção oposta àquela de louvor. No lamento, o salmista abre seu coração honestamente a Deus, um coração muitas vezes cheio de tristeza, medo ou mesmo ira. Salmos 25, 39, 51, 86, 102 e 120.

CARACTERÍSTICAS LITERÁRIAS
O Saltério é poesia do começo ao fim, embora contenha muitas orações. Os salmos são apaixonados, vívidos e concretos; são ricos em figuras de linguagem, como por exemplo as símiles e metáforas. As assonâncias, as alterações e os jogos de palavras também são abundantes no texto hebraico. O uso eficaz de repetições é característico, bem como o acúmulo de sinônimos e complementos para preencher o quadro. Palavras-chave muitas vezes ressaltam temas de maior importância nas orações ou nos cânticos.

A poesia hebraica não tem rimas, nem métrica regular. Sua característica mais diferenciada e comum é o paralelismo. O maior dos versos é composto de dois (às vezes três) segmentos equilibrados entre si (muitas vezes, o equilíbrio não é rigoroso, e o segundo segmento é em geral um pouco mais breve que o primeiro). O segundo segmento ecoa, contrapõe ou complementa estruturalmente o primeiro. Esses três tipos são generalizações e não são totalmente satisfatórios para classificar a rica variedade que a criatividade dos poetas conseguiu realizar dentro da estrutura básica dos dois versos. Podem servir, no entanto, de distinções genéricas que ajudarão o leitor.

Saber onde os versos (ou segmentos do verso original) em hebraico começam ou terminam é às vezes, questão incerta. Até mesmo a Septuaginta divide os versos de maneira diferente dos textos hebraicos hoje existentes. Não é de admirar, portanto que as traduções atuais às vezes divirjam entre si.

TEOLOGIA DOS SALMOS
Assim como o Saltério foi composto durante o período do Antigo Testamento, assim também a teologia dos salmos é tão abrangente como a teologia do Antigo Testamento. Martinho Lutero denominou o Livro dos Salmos de: “Uma Pequena Bíblia e o Restante do Antigo Testamento”.

Os leitores cristãos dos Salmos dão atenção especial à relação entre estes cânticos antigos e Jesus Cristo. Após sua ressurreição, Jesus falou a seus discípulos que “importava que se cumprisse tudo o que sobre mim está escrito na Lei de Moisés, nos Profetas e nos Salmos” (Lc 24.44). O Antigo Testamento, inclusive os Salmos, aguardavam a vinda de Cristo, o seu sofrimento e a sua glória. Jesus e os escritores do Novo Testamento fazem extenso uso dos Salmos para expressar seu sofrimento (Mt 27.46) e a sua glorificação (Mt 22.41 – 46). Além disso, Jesus foi revelado como objeto de culto dos Salmos. Uma vez que Cristo é a Segunda Pessoa da Trindade, os hinos e os lamentos dos Salmos são dirigidos a ele, assim como ao Pai e ao Espírito. Jesus é ao mesmo tempo, cantor dos Salmos (Hb 2.12) e o seu principal tema.

SALMO 22 E O CALVÁRIO
O Salmo 22 apresenta o quadro do Calvário como nenhum outro. Aqui a crucificação é retratada com mais clareza do que em qualquer outra passagem do Antigo Testamento. Começa com o clamor do Senhor na hora mais negra da sua vida: “Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?”. Termina com: “... foi ele quem o fez”. O original hebraico significa: “Está consumado”, a última expressão de Cristo na cruz.

No Versículo 6 deste salmo, está escrito: “Mas eu sou verme, e não homem; opróbrio dos homens e desprezado do povo”, referindo-se à afronta da cruz.

Leia e compare estas passagens:
Salmos 22.1....................................... Mateus 27.46
Salmos 22.6-8.................................... Mateus 27.39,41,43
Salmos 22.12,13................................ Mateus 27.36,44
Salmos 22.8....................................... Mateus 15.23,24

Como água me derramei, e todos os meus ossos se desconjuntaram; o meu coração é como cera, derreteu-se no meio das minhas entranhas” (22.14). Isso descreve transpiração excessiva por causa de tortura física. Refere-se também ao coração partido de Jesus.

A minha força se secou como um caco, e a língua se me pega ao paladar; e me puseste no pó da morte” (22.15). Este versículo descreve uma sede intensa.

Pois me rodearam cães; o ajuntamento de malfeitores me cercou, traspassaram-me as mãos e os pés” (22.16). Crucificação, o método romano de morte por crucificação é descrito aqui neste versículo. A lei judaica desconhecia esse método de castigo. As palavras descrevem a morte por crucificação. Ossos das mãos, dos braços, dos ombros, desconjuntados por ter sido o corpo pregado na cruz, distendendo ossos e músculos.

Repartem entre si as minhas vestes, e lançam sortes sobre a minha roupa” (22.18). Até esse ato dos soldados é descrito neste salmo. Leia Mateus 27.35.
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Livro de Provérbios  http://www.gotquestions.org/Portugues/img/printer-friendly.gif

Autor: O Rei Salomão é o principal escritor de Provérbios. Seu nome aparece em 1:1, 10:1 e 25:1. Podemos também presumir que Salomão coletou e editou provérbios de outros escritores, pois Eclesiastes 12:9 diz: “O Pregador, além de sábio, ainda ensinou ao povo o conhecimento; e, atentando e esquadrinhando, compôs muitos provérbios.” Na verdade, o título hebraico Mishle Shelomoh é traduzido como “Provérbios de Salomão”.

Quando foi escrito: Os provérbios de Salomão foram escritos em cerca de 900 AC. Durante o seu reinado como rei, a nação de Israel atingiu o seu auge espiritualmente, politicamente, culturalmente e economicamente. À medida que a reputação de Israel aumentou, a do rei Salomão também. Dignitários estrangeiros dos confins do mundo viajaram grandes distâncias para ouvir o sábio monarca falar (1 Reis 4:34).

Propósito: O conhecimento é nada mais do que uma acumulação de fatos brutos, mas a sabedoria é a capacidade de ver as pessoas, eventos e situações como Deus os vê. No Livro de Provérbios, Salomão revela a mente de Deus em assuntos superiores e nobres, assim como em assuntos ordinários e situações cotidianas. Parece que nenhum assunto escapou à atenção do rei Salomão. Questões relativas à conduta pessoal, relações sexuais, negócios, prosperidade, amor, ambição, disciplina, dívidas, educação infantil, caráter, álcool, política, vingança e piedade estão entre os vários temas abordados neste rica coleção de provérbios.

Versículos-chave: Provérbios 1:5: “Ouça o sábio e cresça em prudência; e o instruído adquira habilidade.”

Provérbios 1:7: “O temor do SENHOR é o princípio do saber, mas os loucos desprezam a sabedoria e o ensino.”

Provérbios 4:5: “adquire a sabedoria, adquire o entendimento e não te esqueças das palavras da minha boca, nem delas te apartes.”

Provérbios 8:13-14: “O temor do SENHOR consiste em aborrecer o mal; a soberba, a arrogância, o mau caminho e a boca perversa, eu os aborreço. Meu é o conselho e a verdadeira sabedoria, eu sou o Entendimento, minha é a fortaleza.”

Resumo: Resumir o livro de Provérbios é um pouco difícil, pois ao contrário de muitos outros livros da Bíblia, não há nenhuma conspiração ou enredo encontrado em suas páginas; da mesma forma, não existem personagens principais do livro. A sabedoria é o seu foco - uma sabedoria grande e divina que transcende toda a história, povos e culturas. Mesmo uma leitura superficial deste tesouro magnífico revela que os provérbios do sábio rei Salomão são tão relevantes hoje como eram há cerca de três mil anos atrás.

Prenúncios: O tema da sabedoria e da sua necessidade em nossa vida encontra o seu cumprimento em Cristo. Somos continuamente exortados em Provérbios a buscar, adquirir e compreender sabedoria. Provérbios também nos diz - e repete - que o temor do Senhor é o princípio do saber (1:7, 9:10). Nosso temor da ira e justiça do Senhor é o que nos leva a Cristo, nEle encontramos a personificação da sabedoria de Deus expressa no Seu glorioso plano de resgate para a humanidade. Em Cristo “todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento estão ocultos” (Colossenses 2:03). NEle encontramos a resposta à nossa busca por sabedoria, o remédio para o temor da justiça de Deus e a “justiça, e santificação e redenção” de que tanto precisamos (1 Coríntios 1:30). A sabedoria encontrada somente em Cristo está em contraste com a loucura do mundo que nos incentiva a sermos sábios aos nossos próprios olhos. Sendo assim, Provérbios também nos diz que o caminho do mundo não é o caminho de Deus (Provérbios 3:7) e só leva à morte (Provérbios 14:12 e 16:25).

Aplicação Prática: Há uma inegável praticidade encontrada neste livro, pois em seus trinta e um capítulos encontramos respostas sensatas a todos os tipos de dificuldades complexas. Provérbios certamente é o melhor “manual” já escrito e aqueles que têm o bom senso de seguir de coração as lições de Salomão vão descobrir rapidamente que piedade, prosperidade e contentamento estão disponíveis aos que pedem.

A promessa recorrente do Livro dos Provérbios é que aqueles que escolhem obter sabedoria e seguir a Deus serão abençoados de várias maneiras: com longa vida (9:11), prosperidade (2:20-22), alegria (3:13-18) e bondade de Deus (12:21). Aqueles que O rejeitam, por outro lado, sofrem vergonha e morte (3:35, 10:21). Rejeitar a Deus é escolher loucura à sabedoria e é separar-nos de Deus, Sua Palavra, Sua sabedoria e bênçãos.