ESTUDO DO LIVRO DE ECLESIASTES
O TÍTULO
“Eclesiastes” é uma tradução da palavra hebraica koheleth, significando “aquele que reúne
a comunidade”, convencionalmente traduzida por “Pregador”. O termo
“Eclesiastes” foi usado pela Septuaginta, tradução grega da Bíblia, e pela
Vulgata, tradução latina.
AUTOR E
DATA
Tradicionalmente, Koheleth foi identificado com Salomão devido a informações
oferecidas nos dois primeiros versículos do capítulo inicial. A tradição
judaica é pacifica em atribuir ao rei Salomão sua autoria. O autor se declara
filho de Davi (1.1), diz ter reinado em Jerusalém (1.12), se refere a grande
sabedoria (1.16) e a riqueza inigualável (2.4-9). Tudo isso leva a crer na
autoria de Salomão.
Os que defendem a autoria de Salomão argumentam não
haver outro “filho de Davi, rei em Jerusalém”. Deve-se, porém, admitir que a
designação “filho de Davi” pode se referir a qualquer um da linhagem de Davi.
Outro fator intrigante é o motivo de Salomão se valer de um pseudônimo. O
estilo salomônico de seções como 2.1-11 não deixa dúvida de que o autor
pretendia conduzir o leitor a pensar nas experiências de Salomão.
Contudo, alguns estudiosos acreditam que o tipo de
linguagem hebraica utilizada no livro, bem como a visão negativa a respeito dos
governantes nele sugerida (4.13; 7.19; 8.2-4; 10.4-7) indicam que a obra foi
escrita depois do tempo de Salomão. Existem ainda outros questionamentos.
Salomão, terceiro rei de Israel, alguma vez na sua história poderia ter usado o
tempo passado para dizer “Fui rei em Jerusalém”? (1.12). Poderia ele ter
confessado que a tentativa de ser sábio foi um fracasso? “mas a sabedoria
estava longe de mim” (7.23).
Nota da Bíblia King James sobre a autoria de
Eclesiastes: “seu estilo sapiencial,
exclusivo é incomparável revelado nos mais antigos e reconhecidos manuscritos
originais a que o Comitê de tradução da Bíblia King James teve acesso
(Fragmentos do sêfer, rolo, livro de Eclesiastes encontrados nas cavernas de
Qunram, no Mediterrâneo), confirmam a tradição judaica e cristã em defender a
autoria solomônica desta obra”.
Os que datam o livro da época de Salomão tendem a
situá-lo por volta dos séculos VIII ou VII a.C., mas não há como precisar isso.
Felizmente, a natureza atemporal da sabedoria do livro dispensa à ligação a determinada
época. As descobertas arqueológicas no monte Qunram, no Mediterrâneo; as novas
tecnologias e análises exegéticas sugerem a data de 935 a.C. para a primeira
publicação do livro de Eclesiastes.
ECLESIASTES
COMO OBRA APOLOGÉTICA E FILOSÓFICA
Eclesiastes tem sido considerado como uma obra
apologética, isto é, uma tentativa de defender a fé em Deus através de
respostas a argumentos negativos. Com tal peculiaridade, o livro frequentemente
parece expressar uma perspectiva secular, argumentando que a vida não tem
sentido. Diante de tais argumentos, o escritor chega a conclusão de que a fé em
Deus é o único caminho para a realização humana. Embora os ensinamentos do
livro possam ser utilizados na evangelização, a maioria dos estudiosos judeus e
cristãos tem entendido que Eclesiastes é dirigido ao povo de Deus, não aos que
desconhecem a Deus ou se rebelam contra Ele. O livro constitui o sábio conselho
de Deus àqueles que conhecem os seus caminhos, mas acham difíceis e
perturbadores.
Não é preciso sair da Bíblia para encontrar a
filosofia meramente humana da vida. Deus nos deu no livro de Eclesiastes o
registro de tudo o que o pensamento humano e a religião natural já conseguiram
descobrir a respeito do significado e do objetivo da vida. Os argumentos do
livro, portanto, não são os argumentos de Deus, e sem os registros de Deus com
respeito aos argumentos do homem.
O livro é uma autobiografia dramática das
experiências e reflexões de Salomão no tempo em que andou afastado da comunhão
com Deus. Salomão pode ter sido sábio, mas não aplicou sua própria sabedoria.
Eclesiastes tem origem no trágico pecado que Salomão cometeu ao abandonar Deus
e buscar satisfação na filosofia e na ciência que se praticam “debaixo do sol”,
isto é, que se baseiam em especulações e no pensamento humano. A conclusão que
tudo é vaidade e aflição de espírito, por conseguinte, inevitável, e a mensagem
de Eclesiastes é que a vida longe de Deus é cheia de canseira e
desapontamentos.
PROPÓSITO E
MENSAGEM
O autor, ao que parece, já com idade avançada e
muita vivencia, avalia o mundo da forma que o experimentou entre os horizontes
do nascimento e da morte. O mundo é considerado cheio de enigmas, sendo o maior
deles o próprio homem.
A grande lição pregada por Eclesiastes é: Uma vida
humana que não centraliza seu prazer em Deus está destituída de propósito e
sentido; não muito diferente da vida de qualquer animal. Não há nada que possa
produzir mais satisfação do que Deus (2.25). Uma vez que Deus é o foco de uma
pessoa, seja ela quem for e onde estiver, todas as demais bênçãos e
experiências vividas, devem ser recebidas com gratidão (Tg 1.17). Tudo, em
Deus, deve ser desfrutado (2.26; 11.8).
O livro contém máximas e melhores reflexões
filosóficas e teológicas de um homem idoso e vivido, cuja vida, na maior parte
do tempo, não tivera sentido nem plena satisfação, porque usufruía daqueles
prazeres e sensações sem fé e louvor a Deus. A mensagem do livro pode ainda ser
dividida em três posições:
1- Quando se olha para a vida com seus ciclos
aparentemente intermináveis (1.4) e paradoxos inexplicáveis (4.1; 7.15; 8.8),
pode-se concluir que tudo é fútil, já que é impossível discernir qualquer
propósito na ordem dos acontecimentos.
2- Apesar de tudo o que nos sobrevêm, a vida deve ser
desfrutada ao máximo, mediante o entendimento de que é dom de Deus (3.12-13;
3.22; 5.18-19; 8.15; 9.7-9).
3- O homem sábio gastará o tempo da sua vida em
obediência a Deus, reconhecendo que o Eterno, o Senhor, finalmente, julgará
todas as pessoas (3.16-17; 12.14).
A medida que o autor olha em torno de si e examina
os empreendimentos humanos, vê o homem numa corrida desenfreada atrás de uma
coisa após outra, labutando como se conseguisse dominar o mundo, desvendar seus
segredos, mudar suas estruturas fundamentais, romper os grilhões das limitações
humanas e ser senhor de seu destino. Vê o homem correndo em vão atrás de
esperanças e das expectativas, o que na realidade, é inútil correr atrás do
vento (1.14; 2.11,17,26; 4.4,16; 6.9).
A vida que não se centraliza em Deus está
destituída de propósito e sentido. Sem Deus, nada mais pode satisfazer (2.25).
Com Deus, toda a vida e suas outras dádivas devem ser recebidas com gratidão,
usadas e desfrutadas plenamente (2.26; 11.8).
A mensagem de Eclesiastes é que a vida a ser
buscada é centrada em Deus. Os prazeres não satisfazem de forma duradoura. A
vida oferece bons e maus momentos e não segue o padrão proposto pelo principio
da retribuição. Todavia, tudo procede de Deus (7.14). A adversidade pode não
ser agradável, mas pode ajudar a desenvolver a fé.
A mensagem do livro de Eclesiastes deve ser
considerada como positiva e ortodoxa. Isso é motivo de controvérsia entre os
interpretes de Eclesiastes, pois alguns deles percebem em suas paginas apenas
pessimismo ou cinismo.
CARACTERÍSTICAS
E TEMAS
Eclesiastes busca dar resposta a pergunta: Que
proveito tem o homem no trabalho e na sabedoria? O trabalho e a sabedoria
constituem os dois temas principais livro. Palavras como “vantagem”, “proveito”
e palavras semelhantes, como “melhor” (6.9), ocorrem inúmeras vezes no texto.
Outra palavra importante é, “vaidade”, colocada no sentido de inutilidade. Essa
palavra-chave é usada no tema que emoldura o livro (1.2; 12.8), que em cada
caso é acompanhada por um poema relacionado ao tema (1.3-11; 1.7 – 12.7).
Afora essas estruturas literárias obvias, não se tem chegado a um consenso
quanto a estrutura básica do livro. Suas tendências conflitantes de otimismo e
pessimismo dificultam a compreensão da intenção geral do livro. Contudo, os
blocos de material que o compõem referem-se em grande parte a esses dois temas.
A conclusão de Salomão de que a morte faz com que
toda a sabedoria e trabalho humano sobre a face da terra (debaixo do sol) sejam
em vão não significa que as pessoas devam abandonar a sociedade e a cultura e
passar a viver uma vida ascética.
O âmbito da criação discutido em Eclesiastes é
indicado pelas expressões sinônimas “debaixo do sol”, “debaixo do céu” e “na
terra”. A afirmação de Salomão de que tudo é fútil não se aplica à realidade
transcendente do céu; não há nenhuma contradição entre Salomão e Paulo.
Quaisquer tesouros que os descendentes de Adão ajuntarem na terra serão
tirados, mas o esforço celestial realizado través do Segundo Adão, que venceu a
morte, nunca é vão (ICo 15.58).
GÊNERO
LITERÁRIO
Como vários outros livros poéticos, Eclesiastes
contém gêneros literários diversos. Ele usa alegorias, adágios, metáforas,
provérbios, entre outros. Além de identificações de gênero existem várias obras
literárias do Antigo Oriente Médio que abordam situações em que a sabedoria
convencional é considerada incoerente com a realidade. Certamente, esse era o
caso de Jó e de seus equivalentes no Antigo Oriente Médio. Embora a literatura
não rejeite a sabedoria, ela apresenta suas limitações e insuficiência.
CITAÇÕES DO
PREGADOR
Espalhar e
juntar pedras (3.5). As pedras de um campo eram retiradas para que o
agricultor pudesse usá-lo com objetivos agrícolas. Costumava-se atirar pedras
no campo de um inimigo para que as plantações fossem prejudicadas.
Todos vão
para o mesmo lugar (6.6). Na visão israelita a escolha não era céu ou
inferno, mas vida ou morte. Este versículo fala sobre o destino humano e,
portanto, o lugar aonde todos iam era o Sheol, a habitação dos mortos.
Pão sobre
as águas (11.1). O texto sugere que uma boa ação espontânea não é
garantia de reciprocidade, mas a certeza de que o que vai sempre volta.
CONCLUSÃO
Depois de várias observações judiciosas, o pregador volta ao seu assunto principal: exorta o jovem a regozijar-se na sua mocidade, a viver alegre no seu coração, porém sujeito às leis da sabedoria; exorta o jovem a que se lembre do seu Criador nos dias da sua mocidade, termina com esta sábia e piedosa sentença: "Teme a Deus e observa os seus mandamentos; porque isto é tudo do homem. Porque Deus fará dar conta no juízo de tudo quanto se comete, seja boa ou má essa coisa qualquer que for" (11.9 - 12.14). Com esse argumento o pregador apela para o relacionamento do homem com seu Deus, até onde permitir o conhecimento que dele tem pela natureza e pela existência.
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O Cântico dos
Cânticos
1.
Introdução
Quero concluir este
caderno sobre a liberdade para amar, como nos é dada pela visão franciscana da
castidade, recordando o livro bíblico do Cântico dos Cânticos. Porque viver a
castidade é um cântico, é transbordar de júbilo.
A pessoa que soube
acolher o dom da liberdade para amar descobriu que a vida tem um sentido muito
bonito. Viu que Deus está sempre vindo ao seu encontro: em cada objeto, em cada
planta, em cada animal, em todos os acontecimentos mas, principalmente, em cada
uma das pessoas que vai entrando em nossa vida. Tudo canta o Deus que nos ama.
A Bíblia encontrou
esse símbolo do amor entre o homem e a mulher como a melhor maneira de falar do
amor entre Deus e o seu Povo, entre Deus e cada um de nós. Por mais pálido e
insuficiente que seja, é um símbolo válido de toda a intimidade que Deus quer
ter conosco.
Por isso, quem o
descobriu vive cantando. E, segundo o livro do Apocalipse, vai continuar
seguindo o Cordeiro, Jesus Cristo, onde quer que ele vá por toda a eternidade,
cantando a alegria sem fim. O Apocalipse fala de "cântico dos
virgens". Não são os que não se "sujaram" no contato com
mulheres, como poderia fazer crer uma leitura literal, mas os que souberam
deixar todo espaço para Deus que vinha ao seu encontro. São os que se deixaram
encontrar pelo Libertador.
2. O livro
dos Cantares
"Cântico dos
cânticos" quer dizer o cântico por excelência. No sec. I depois de Cristo,
quando os judeus discutiram se esse livro devia mesmo constar na Bíblia, pois
havia quem o lesse como obsceno e indecoroso, um rabino chamado Akiba disse que
"o dia em que foi composto o Cântico dos Cânticos valia mais do que qualquer
coisa deste mundo".
De fato, teve a
preferência dos grandes místicos, como São Bernardo e São João da Cruz e
expressou de uma maneira muito bonita uma das idéias centrais da Bíblia, no
Antigo e no Novo Testamento: a de que Deus nos ama como um esposo.
Considerando-o materialmente,
ele deve ter sido composto pela reunião de trechos de diversos cânticos de
casamento tanto da Palestina como da Babilônia e do Egito. É uma espécie de
diálogo entre um noivo e uma noiva, intercalado às vezes por comentários de
grupos de amigos do esposo ou companheiras da esposa. Os dois exaltam o amor,
mas mais do que tudo os dotes físicos um do outro.
Numa leitura
espiritual, ele fala de Deus. Está repleto de símbolos, mas é preciso alertar
que, mais do que uma alegoria (em que pedacinho por pedacinho pode querer estar
dizendo alguma coisa simbólica) ele é uma parábola (em que o importante é o
sentido geral). Nesse sentido parabólico, o Cântico foi escrito para falar do
amor de Deus-Esposo por Israel, o Povo que Ele assumiu como esposa. Só que o
sentido mais pleno seria entendido apenas depois do Novo Testamento: é o amor
de Jesus Cristo pela Igreja, é o amor entre Deus e cada um de nós.
Eu diria que esse
livro é o cerne da Bíblia, porque a Bíblia é a comunicação do amor de Deus. Nós
só ouviríamos falar disso claramente através de Jesus, e principalmente na
Primeira Carta de São João, mas ele já estava lá, pelo menos uns quinhentos
anos antes de Cristo.
Mesmo hoje, o que
ele devia ensinar-nos é a clamar o que Santa Clara escreveu a Inês de Praga em
1253:
Tomara que você se
inflame cada vez mais no ardor dessa caridade, ó rainha do Rei celeste! Além
disso, contemplando suas indizíveis delícias, riquezas e honras perpétuas,
proclame, suspirando, com tamanho desejo do coração e tanto amor: Arrasta-me
atrás de ti! Corramos no odor dos teus bálsamos, ó esposo celeste! Vou correr
sem desfalecer, até me introduzires na tua adega, até que tua esquerda esteja
sob a minha cabeça, tua direita me abrace toda feliz, e me dês o beijo mais
feliz de tua boca (4CtIn 27-32).
Todas as Cartas de
Santa Clara vibram com reminiscências do Cântico dos Cânticos e nos ensinam uma
prática do amor que nossa cultura parece ter perdido: amar não é lutar com
pecados, é deixar-se invadir por Deus e saber saborear e fruir de todas as
manifestações de sua bondade que nos convida.
3. A Bíblia
ilumina
O mesmo Deus que é
o Autor da Bíblia foi antes o autor do mundo. Sua revelação entregue ao Povo
constitui, digamos, uma nova chave de leitura: podemos reler o que o mundo
sempre nos dis-se mas com os "olhos do espírito" abertos pelo
Espírito do Senhor, em vez de ficarmos simplesmente com a visão negativa que
nos dá o "espírito da carne".
Foi Deus quem
inventou o homem, a mulher e o amor entre eles (éros) só para que pudéssemos
entender o seu Amor pelo gênero humano. Esse amor nos dá a possibilidade de
entendermos que somos o povo que Deus ama como uma esposa.
As pessoas que Deus
põe em nossa vida com um amor especial são a melhor experiência dele que Ele
nos faz ter. Seja mãe, seja pai, seja namorado ou namorado, seja amigo ou
amiga.
Se eu sou uma
mulher, posso até ter uma experiência, ao ser amada por um homem, de como é que
Deus me ama. Eu sei como posso amar, como posso retribuir o seu amor.
Se eu sou um homem,
ao amar uma mulher, posso ter experiência de como Deus ama a nós todos. Ao ser
amado por uma mulher, posso experimentar o que Deus espera de nós todos.
Todo povo é
feminino diante de Deus. Toda alma é feminina diante do Esposo.
Mas todo homem pode
ter uma experiência de Deus como mulher, assim como toda mulher pode ter uma
experiência de Deus como homem.
Mas o amor entre o
homem e a mulher nunca chega a saciar, porque é apenas uma iniciação a um amor
que tem que ser muito maior, pois foi feito para ser infinito.
Quando a mulher
arranca o homem de dentro dele mesmo, prova-lhe que ele nasceu para o Infinito.
Quando o homem arranca a mulher de dentro dela mesma, prova-lhe que também ela
nasceu para o Infinito.
Há um ponto em que
podemos alcançar a saciedade: o encontro corporal. Mas há mil outros pontos que
clamam que nós somos e temos que ser insaciáveis.
Mesmo que um homem
encontre em uma mulher a sua companheira ideal, para todos os dias de sua vida,
jamais consegue fechar-se ao encanto de todas as outras mulheres, porque todas
elas são aspectos variados do Infinito que o atrai. Mesmo que uma mulher
encontre em um homem o companheiro ideal para toda a sua vida, jamais
conseguirá esquivar-se à atração de todos os homens, porque eles também são
aspectos do Infinito.
4. O Amor
infinito
O homem e a mulher
enamoram-se porque encontram um no outro partes consideráveis de Infinito. E
ficam com uma sede cada vez maior do Semfim.
Sentimonos
limitados pelo tempo. Vamos precisar estar no "não-tempo" para que o
nosso amor encontre o caminho da saciedade, ou da não-saciedade infinita.
Sentimo-nos
limitados pelo espaço, pelas separações, pelos setores desconhecidos... vamos
precisar de uma multidão de homens e de mulheres – no "não-lugar" –
para termos uma idéia de como Deus nos ama, de como somos amados por Ele e
podemos amá-lo.
Castidade é o amor
que nunca se prende ao tempo nem ao espaço. Castidade é o amor que se abre em
profundidade para as pessoas sem as possuir, sem querer apropriarse delas,
porque a apropriação mata o amor. Castidade é conseguir beber tudo que for
possível do Infinito em cada gota de amor que qualquer pessoa for capaz de nos
apresentar. E toda pessoa pode apresentar um oceano, se soubermos encontrar a
chave de seu coração. E todos os corações se abrem quando nós temos um coração
que sabe ouvir.
Muitos santos e
santas, como Francisco e Clara, já viveram uma boa amostra do Cântico (uma
coisa que todas as pessoas podem provar) e uma multidão já o tem em plenitude
(isso é "vida em plenitude") no não-lugar e no não-tempo, que são o
céu, vivido mesmo antes da morte, porque é o encontro com Deus.
Por isso, longe de
ser medo de amar, como muita gente parece pensar, a castidade é a entrega sem
limites à liberdade de amar. De amar todos, de amar tudo, porque é a liberdade
de amar Deus em tudo e em todas as pessoas.
Ela existe quando
recebemos esse dom de enxergar por trás de tudo o amor infinito de Deus que nos
busca como se fôssemos sua única criatura.
5. Dodí lí
wa aní lô.
Quem decidiu ser de
Deus e já fez um esforço sério para encontrá-lo, teve mil oportunidades de
constatar que Deus começou a nos procurar primeiro. Sua força está nessa frase
curta e transcendente que o livro do Cântico dos Cânticos repete várias vezes: Dodí
lí wa aní lô - O meu Amado é meu e eu sou dele!
Vamos recordar um
pequeno trecho, para amostra:
A voz de meu amado!
Vejam: vem correndo
pelos montes, saltitando pelas colinas!
Meu amado é como um
gamo, um filhote de gazela.
Ei-lo postando-se
atrás de nossa parede, espiando pelas grades, espreitando pela janela.
O meu amado fala e
me diz:
"Levante-se,
minha amada, formosa minha, venha a mim! Veja: o inverno já passou! Olhe: a
chuva já se foi! As flores desabrocham na terra, o tempo da poda vem vindo, e o
canto da rola já se ouve em nosso campo. Despontam figos da figueira e a vinha
florida exala perfume. Levante-se minha amada, formosa minha, venha a mim!
(Cant 2,813).
Apesar de todos os
problemas que enfrentamos cada dia em nosso mundo, Deus é aquele que não nos
esquece, que está sempre mostrando os aspectos bonitos deste jardim em que nos
colocou. Deus é aquele que vem despertarnos do sono para sairmos ao encontro da
primavera. Ele sabe mostrar como podemos caminhar seguros no meio de todas as
trevas porque aprendemos a enxergar a luz do seu rosto.
Ao ler o Cântico
não podemos nos prender ao sentido material de expressões que lembram as
"curvas das tuas coxas", nem " os teus seios que parecem meias
romãs", ou "ao beijo mais doce de tua boca". Como ninguém de
hoje pensa em elogiar o cabelo de outra pessoa dizendo que ele "parece um
rebanho de cabras que saíram do banho", nem acha que uma mulher é bonita
porque se parece "com a égua atrelada ao carro do faraó" e jamais vai
dizer, por mais carinho que tenha, que o nariz da pessoa amada é "como uma
torre". Temos que captar o conteúdo total. Se o captarmos, todos os
detalhes podem até ajudar, porque teremos olhos do espírito para entende-los.
Com os olhos
abertos pelo Espírito do Senhor, conseguiremos ler nas expressões idílicas do
rapaz e da moça apaixonados que estão no Cântico dos Cânticos à luz da
famosa página do capítulo 25 de São Mateus: Quando o menor dos irmãos de Jesus
estava passando fome, Deus, o meu Amado, estava declarando o seu amor por mim.
Quando tantas pessoas estão sem casa, sem trabalho, sem a dignidade de uma
roupa decente, sem o respeito pela sua raça... Deus, o meu Amado, está
perguntando ansioso se, de verdade, eu também sou dele.
Quando a maioria
tenta me convencer de que as pessoas têm que ser avaliadas por seu dinheiro, por
seu sucesso, ou execradas por suas "culpas", se eu souber deixar tudo
para construir um mundo melhor nem que seja dando alguns minunutos de minha
inteira e amorosa atenção a quem precisa, estarei podendo repetir com muita
propriedade: "O meu Amado é meu, e eu sou dele!".
6. Uma
contribuição específica
O tema tratado
neste caderno não está restrito a uma dimensão pessoal (como eu vou dar conta
do meu dever de castidade?) e nem à vida interna de uma fraternidade
franciscana. Os seguidores de Francisco e Clara de Assis estão no mundo para
fazerem as pessoas acreditarem que podemos construir uma alegre fraternidade
universal. Para durar eternamente, mas que começa desde já.
Quem acredita que o
Esposo-Deus já chegou na pessoa de Jesus Cristo e já está presente no mais
profundo de seu coração, podendo ser olhado como aquele espelho interior em que
Santa Clara ensinou a pôr a mente, a alma e o coração, leva a liberdade de amar
para todos os setores da vida humana, sem se importar com a profissão que
exerce ou com o tipo de pessoas que encontra.
A imensa família
franciscana, que consta de tanto de religiosos e religiosas como de leigos e
leigas, está presente no mundo para oferecer a todos essa alternativa de vida
que teve a graça de aprender quando abriu o coração pela pobreza franciscana e
acolheu o Deus de Amor que traz para dentro todos os seus filhos e filhas.
Vivemos em um mundo
que segue o "espírito da carne", mas não fomos deixados nele para
sermos os seus críticos e sim para despertarmos, pelo nosso testemunho, aquela
sede que está sepultada mas não morta no fundo do coração de todos os seres
humanos: o desejo de gritar com o Espírito: Vem, Senhor Jesus, vem! Maranathá!
6. Hino aos
livres
Este caderno quer
ser um hino a todos os que aprenderam a amar. A todos os que, solteiros ou
casados, consagrados ou simples membros do Povo de Deus, nunca deixaram de
oferecer uma alternativa palatável e bonita a um mundo que desvalorizou a
palavra amor porque a envolveu em escravidões consumistas.
Estas páginas
querem ser um estímulo de coragem para tantos homens e mulheres que souberam
renunciar ao que era mais pessoal para se abrir ao serviço de tantos outros que
ficaram sem nada.
Querem chegar ao
coração dos que, às vezes, sentem-se sozinhos em momentos difíceis porque muitas
pessoas nunca pensam em retribuir o amor. Construir o Reino é mesmo um parto
doloroso, mas vale a pena.
Querem lembrar que
foi graças à castidade oferecida como dom votivo, tanto a Deus em pessoa como a
Deus em suas infinitas manifestações nas pessoas, que foi possível termos
homens e mulheres que deixaram tudo que tinham para ir a outros povos, para
cuidar de pobres e crianças e doentes com quem ninguém queria se envolver.
É graças a pessoas
assim consagradas que muitos dos pequenos, dos excluídos e dos esquecidos
puderam encontrar quem lhes desse atenção.
É claro que muita
gente não os entendeu e que parecem até aumentar os que têm cada vez mais
dificuldades para entende-los. Mas não importa. Quanto o Filho de Deus veio ao
mundo também não foi entendido pela maioria e também realizou muito pouco se
quisermos medir suas atividades pelos padrões dos sistemas de eficiência que já
existiam e foram sendo exacerbados na história.
Neste hino aos que
enfrentaram lutas e vivem se libertando para amar, também penso em tantos
homens e mulheres que fizeram a sua consagração mas, por problemas diversos,
nunca conseguiram libertar-se. Ou ainda não conseguiram libertar-se. Ou até
ficaram mais presos do que antes de deixar suas famílias para buscar um caminho
de Deus.
Não devem desanimar
nunca, porque sempre é tempo. Nós sabemos que estamos todos em um processo de
libertação. Não importa se alguns já conseguiram muito e se outros ainda estão
precisando começar. O que importa é que o Deus de Amor quer que todos sejam livres
para amar.
7.
Propostas práticas
- Não se deixe levar pelo clima hedonista (do prazer só pelo prazer) e consumista (de comprar de tudo só para se consolar) tão violentamente inculcado em nossos dias pelos meios de comunicação.
- Não se deixe dominar pela visão moralista (que só enxerga pecados e julgamentos) que reina em alguns ambientes religiosos. Viver Deus é viver o amor e a liberdade.
- Você tem que ser uma alternativa nos ambientes em que vive. Seu exemplo deve convencer as outras pessoas de que é possível ao mesmo tempo ser muito livre e, justamente por isso, amar com intensidade sem abusar de ninguém.
- Não prenda ninguém. Anime todas as pessoas a se soltarem. Mostre como é que a gente se liberta. Nunca se esqueça de que o Filho de Deus deu a vida para que nós pudéssemos ser livres.
- Comece com as pessoas mais próximas. É em casa que se aprende a amar, que se ensina a amar, que se vive um amor livre de máscaras e de rodeios.
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Autor: O Livro de Jó não
revela especificamente o nome do seu autor. Os candidatos mais prováveis são
Jó, Eliú, Moisés e Salomão.
Quando foi escrito: A data da
autoria do Livro de Jó seria determinado por quem foi o seu autor. Se Moisés
foi o autor, a data seria por volta de 1440 AC. Se Salomão foi o autor, a data
seria em torno de 950 AC. Já que não sabemos de certeza quem foi o autor, não
podemos saber exatamente quando foi escrito.
Propósito: O Livro de Jó nos
ajuda a entender o seguinte: Satanás não pode nos afligir com destruição física
e financeira sem a permissão de Deus. Deus tem poder sobre o que Satanás pode e
não pode fazer. Isso vai além de nossa capacidade humana de entender o “porquê”
por trás de todo o sofrimento no mundo. Os ímpios vão receber o pagamento por
suas ações. Nem sempre podemos culpar o nosso sofrimento e pecado em nossos
estilos de vida. Sofrimento às vezes pode ser permitido em nossas vidas para
purificar, testar, ensinar ou fortalecer a alma. Deus continua a ser suficiente
e a merecer e desejar o nosso amor e louvor em todas as circunstâncias da vida.
Versículos-chave: Jó 1:1: “Havia um
homem na terra de Uz, cujo nome era Jó; homem íntegro e reto, temente a Deus e
que se desviava do mal.”
Jó 1:21: “e disse: Nu saí do ventre de minha mãe e nu voltarei; o SENHOR
o deu e o SENHOR o tomou; bendito seja o nome do SENHOR!”
Jó 38:1-2: “Depois disto, o SENHOR, do meio de um redemoinho, respondeu
a Jó: Quem é este que escurece os meus desígnios com palavras sem
conhecimento?”
Jó 42:5-6: “Eu te conhecia só de ouvir, mas agora os meus olhos te veem.
Por isso, me abomino e me arrependo no pó e na cinza.”
Resumo: O livro inicia com
uma cena no céu onde Satanás aparece diante de Deus para acusar Jó. Ele insiste
que Jó apenas serve a Deus porque o Senhor o protege. Satanás pede então pela
permissão de Deus para testar a fé e lealdade de Jó. Deus concede a Sua
permissão, mas apenas dentro de certos limites. Por que os justos sofrem? Esta
é a pergunta feita depois que Jó perde sua família, sua riqueza e sua saúde. Os
três amigos de Jó (Elifaz, Bildade e Zofar) aparecem para “confortá-lo” e
discutir a sua enorme série de tragédias. Eles insistem que seu sofrimento é em
castigo pelo pecado em sua vida. Jó, no entanto, continua a ser dedicado a Deus
por tudo isso e afirma que sua vida não tem sido uma de pecado. Um quarto
homem, Eliú, diz a Jó que ele precisa se humilhar e submeter ao uso de
dificuldades por parte de Deus para purificar a sua vida. Finalmente, Jó
questiona o próprio Deus e aprende lições valiosas sobre a Sua soberania e a
sua necessidade de confiar totalmente no Senhor. Deus então restabelece a
saúde, felicidade e prosperidade para muito além do seu estado anterior.
Prenúncios: À medida que Jó
pondera a causa de sua miséria, três perguntas vieram à sua mente, todas as
quais são respondidas apenas em nosso Senhor Jesus Cristo. Essas questões
ocorrem no capítulo 14. Primeiro, no versículo 4, Jó pergunta: “Quem da
imundícia poderá tirar coisa pura? Ninguém!?” A pergunta de Jó vem de um coração
que reconhece que não pode agradar a Deus ou se justificar diante dEle. Deus é
santo, nós não. Portanto, existe um grande abismo entre Deus e o homem que foi
causado pelo pecado. Mas a resposta à pergunta angustiada de Jó é encontrada em
Jesus Cristo. Ele pagou pela penalidade dos nossos pecados e trocou-a por Sua
justiça, tornando-nos assim aceitáveis aos olhos de Deus (Hebreus 10:14,
Colossenses 1:21-23, 2 Coríntios 5:17).
A segunda pergunta de Jó: “O homem, porém, morre e fica prostrado;
expira o homem e onde está?” (Versículo 10) é uma outra pergunta sobre a
eternidade, vida e morte que é respondida apenas em Cristo. Com Cristo, a
resposta a “expira o homem e onde está?” é vida eterna no céu. Sem Cristo, a
resposta é uma eternidade nas “trevas” onde há “choro e ranger de dentes”
(Mateus 25:30).
A terceira pergunta de Jó, encontrada no versículo 14, é: “Se um homem
morre, viverá outra vez?” Mais uma vez, a resposta é encontrada em Cristo. Nós
realmente viveremos de novo se estamos nEle. “E, quando este corpo corruptível
se revestir de incorruptibilidade, e o que é mortal se revestir de
imortalidade, então, se cumprirá a palavra que está escrita: Tragada foi a
morte pela vitória. Onde está, ó morte, a tua vitória? Onde está, ó morte, o
teu aguilhão?” (1 Coríntios 15:54-55).
Aplicação Prática: O Livro de
Jó nos lembra que existe um “conflito cósmico” acontecendo por trás das cenas
sobre o qual normalmente não sabemos nada. Muitas vezes nos perguntamos por que
Deus permite algo, e acabamos questionando/duvidando da bondade de Deus sem ver
a imagem completa. O Livro de Jó nos ensina a confiar em Deus em todas as
circunstâncias. Devemos confiar no Senhor não apenas QUANDO não entendemos, mas
PORQUE não entendemos. O salmista nos diz: “O caminho de Deus é perfeito”
(Salmo 18:30). Se os caminhos de Deus são “perfeitos”, então podemos confiar
que tudo o que Ele faz e tudo o que Ele permite também é perfeito. Isso pode
não nos parecer possível, mas nossas mentes não são a mente de Deus. É verdade
que não devemos antecipar que entenderemos a sua mente perfeitamente, pois Ele
nos lembra “Porque os meus pensamentos não são os vossos pensamentos, nem os
vossos caminhos, os meus caminhos, diz o SENHOR, porque, assim como os céus são
mais altos do que a terra, assim são os meus caminhos mais altos do que os
vossos caminhos, e os meus pensamentos, mais altos do que os vossos
pensamentos” (Isaías 55:8-9). No entanto, a nossa responsabilidade para com
Deus é obedecer e confiar nEle, submetendo-nos à sua vontade, quer entendamos
ou não.
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Sabedoria
Com o livro da Sabedoria, encontramo-nos no fim do AT, num momento fundamental do diálogo entre o judaísmo e a cultura grega. Neste sentido, ele é um bom predecessor do NT. Por isso, a sua língua é o grego e pertence aos chamados livros Deuterocanónicos, por se encontrar apenas na Bíblia grega e, consequentemente, não entrar nem no Cânon judaico (da Bíblia hebraica) nem, mais tarde, no Cânon das igrejas protestantes.AUTOR E DATA
Atribuído a Salomão por algumas versões e manuscritos antigos, o livro da Sabedoria é certamente da responsabilidade de um autor anónimo bem distante de Salomão no tempo, que não poderá situar-se para além do ano 50 a.C. (entre 150 e 50 a.C.). Isso manifesta-se nos indícios de carácter literário e histórico. A atribuição do livro a Salomão, nos cap 6-9, e só implicitamente, deve-se ao facto de a tradição bíblico-judaica situar este rei na origem do género literário sapiencial, o que faz dele o Sábio por excelência (7,1-21; 8,14-16; 9; ver 1 Rs 3,5-9; 5,9-14; 10,23-61). Muito provavelmente, o autor foi um judeu de Alexandria, no Egipto – onde residia uma forte comunidade judaica – que utilizou a pseudonímia. Como fruto dessa comunidade, o livro está marcado culturalmente por uma forte influência helenista.
O autor conhece, por um lado, a História do seu povo e a fé num Deus sempre presente e pronto a intervir nela; e por outro, sente a forte atracção que as principais filosofias helenísticas e as diversas religiões exercem na vida dos seus irmãos de raça e de fé. Por isso, tenta estabelecer o diálogo entre fé e cultura grega (6-8), de modo a sublinhar que a sabedoria que brota da fé e conduz a vida dos israelitas é superior à que inspira o modo de viver dos habitantes de Alexandria. Com este livro, o autor dirige-se, pois, a dois destinatários diferentes: aos judeus de Alexandria, directa ou indirectamente perseguidos pelo paganismo do ambiente; e aos próprios pagãos, sobretudo aos intelectuais helenistas, mais abertos à cultura hebraica, intentando, porventura, convertê-los ao Deus verdadeiro.
ESTRUTURA E CONTEÚDO
Esta proposta de vida, assente na revelação de Deus, manifestada na História e no mundo criado, é desenvolvida em três partes:
I. A Sabedoria e o destino do homem
(1,1-5,23): descreve-se a sorte diversa dos justos e dos ímpios, à luz da fé;
sendo a justiça imortal (1,16), Deus reserva a imortalidade aos justos.
II. Elogio da Sabedoria
(6,1-9,18): origem, natureza, propriedades e dons que acompanham a sabedoria
(7,22-8,1), como personificação de Deus (ver Pr 8; Sir 24); elogio da
sabedoria, elevando-a acima dos valores mais apreciados neste mundo.
III. A Sabedoria na História de Israel
(10,1-19,22): descreve-se a presença e a actividade da sabedoria em toda a
História do povo de Israel com especial incidência sobre o Êxodo
(11,1-19,17), em forma de midrache e de contrastes, que caracterizam o estilo
desta terceira parte (11,4-15,19; 16,1-4.5-14.15-29; 17,1-18,4; 18,5-25;
19,1-21). Mas o autor também manifesta conhecimentos profundos de outros
livros: Génesis, Provérbios, Ben Sira e Isaías. Merece um relevo especial a
brilhante polémica contra a idolatria.
O estilo
geral da obra inclui recursos estilísticos hebraicos (paralelismo, parataxe,
comentário midráchico, alusões a motivos do AT) e gregos (abundância de
sinónimos, adjectivação rebuscada, aliterações, rimas e jogos de palavras).
Tudo isto faz do livro da Sabedoria um modelo do grego da Bíblia dos Setenta. TEOLOGIA E LEITURA CRISTÃ
Muitos judeus seriam tentados a seguir o caminho dos “ímpios” e a renegar a sua fé, tanto pela perseguição ou pelo ridículo a que eram sujeitos por causa das práticas dessa fé, como pela vida moral fácil que os alexandrinos levavam, em contraste com as exigências apontadas pela Lei (2,1-20). Mais que uma categoria ou classe de pessoas, os “ímpios” – que são o contraponto dos “justos” ao longo de todo o livro – personificam um estilo de vida oposto e hostil, por vezes, ao que deveria constituir o do judeu crente. Esta temática pode caracterizar-se pela ideia de justiça, nos seus três sentidos bíblicos: como virtude da equidade, isto é, dar a cada um o que lhe pertence; como cumprimento perfeito da vontade de Deus; e, finalmente, como força ou acção de Deus, que nos livra de toda a espécie de mal.
O autor resolve o problema da felicidade dos justos e infelicidade dos ímpios pela retribuição ultraterrena para os justos. Face a um ambiente religioso, filosófico e cultural, que apresentava um estilo de vida material e formalmente atraente, era imperioso dar razões fortes da fé, mesmo em termos racionais e vitais, para que ela não aparecesse inferiorizada como proposta ou estilo de vida. Por isso o autor mostra excepcionais conhecimentos de toda a Bíblia e da vida cultural helenística.
Uma segunda ideia teológica fundamental deste livro é a personificação da Sabedoria divina. Enquanto, para os gregos, a sabedoria era um meio para chegar ao conhecimento e contemplação divina, para o autor, ela é uma proposta de vida, um alguém que está presente em toda a vida e que preside à vida toda; que fala, estimula e argumenta. A sabedoria é assim porque é o reflexo da vontade e dos desígnios de Deus (9,13.17); porque partilha da própria vida de Deus e está associada a todas as suas obras (8,3-4) e tem a ver com o espírito de Deus (1,6; 7,7.22-23; 9,17); é ela que torna a religião judaica muito superior às religiões idólatras (cap. 13-15). Numa palavra, a sabedoria é um outro modo da revelação de Deus; isto é, o próprio Deus actua na História de Israel (cap. 11-12; 16-19) e no mundo criado por meio da sua sabedoria. Ela prefigura o amor e a sabedoria de Deus que culmina em Jesus Cristo, também chamado “Sabedoria de Deus” (ver 1 Cor 1,24.30).
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ESTUDO DO LIVRO DOS SALMOS
O livro de
Salmos é conhecido como Saltério (nebel), lira ou harpa, uma composição de 150
textos poéticos de lamentação, súplica, louvor, ação de graças, de tempos e
lugares diferentes. Essa coleção chama-se em hebraico, O Livro dos Salmos. Em grego, Psalmos,
isto é, “Poemas adaptados à música”. É o primeiro e mais comprido dos livros do
Hagiógrafo, a terceira divisão da Bíblia hebraica.
O livro de
Salmos é um dos mais estimados e usados do Antigo Testamento e, ao mesmo tempo,
um dos mais problemáticos do cânon. Questões relativas à autoria, composição,
teologia, interpretação, aplicação e função contribuem para a complexidade do
livro. O fato de muitos cristãos, ao longo dos séculos, terem encontrado
consolo em suas páginas em tempos de necessidade, sem jamais considerar estas
questões, serve de testemunho do poder de Deus de ministrar por meio dos livros
das Escrituras.
Os primeiros
salmos a serem agrupados, e que mais tarde dariam origem ao Saltério, foram
denominados “Orações de Davi, filho de Jessé”. Outros foram compostos durante o
exílio. Contudo foi durante o reinado de Salomão e o exercício do serviço
litúrgico e religioso no primeiro Templo, que os salmos definitivamente
passaram a fazer parte da tradição judaica.
Assim, o livro dos Salmos é a compilação de várias coletâneas da fina
obra literária bíblico-canônica judaica (poemas, hinos e cânticos espirituais)
e representa a etapa final de um processo que demandou séculos de história.
Foram os mestres e servos pós-exílicos do Templo, entretanto, que completaram e
concluíram a coletânea final de 150 salmos, ao final do século III a.C.
Os salmos
refletem tanto o caráter histórico como devocional. Muitos acontecimentos da
historia são apresentados: a criação do homem (8.5), a aliança estabelecida com
Abraão e seus descendentes (105.9-11), o sacerdócio de Melquisedeque (110.4),
Isaque, Jacó, Moisés e Arão (105.9-45), a libertação do Egito e a herança
Cananéia (78.13; 105.44). Muitos outros exemplos poderiam ser citados.
DATA
Ao questionarmos
a data da publicação dos salmos, uma primeira pergunta se faz necessária: de
qual salmo especificamente estamos falando? Porquanto o Saltério é composto de
salmos que vão desde a época pré-exílica, passando por todo o tempo de
cativeiro, até o pós-exílico. O processo de descobrimento, seleção e formação
da coletânea canônica dos salmos levou vários séculos, e foi concluído somente
no final do século III a.C.
Considerando que
metade de todo o Saltério é de autoria de Davi (ou davídicos), e que quase
todos foram originados no período áureo de Israel e alguns até mais tarde,
podemos datar as primeiras publicações dos Salmos por volta do ano 1000 a.C.
AUTORES DOS SALMOS
Falamos de
Salmos como sendo de Davi. Ele é considerado o autor principal, dá a nota
dominante, e a sua voz se sobressai às outras no coro sagrado. Mas houve outros
autores além dele.
De acordo com os
títulos, Davi foi o autor de 73 salmos, Asafe foi autor de 12, os filhos de
Coré foram autores de 11, Salomão foi autor de 2, e Moisés e Etã foram autores
de 1 salmo cada. Nenhum autor é mencionado no caso de 50 dos salmos. A
Septuaginta adiciona Ageu e Zacarias como autores de 5 salmos.
Salmos de Davi: 3 a 9, 11 a 32, 34 a 41, 51 a 65; 68 a 70, 86, 101, 108 a 110, 122,
124, 132, 133, 138 a 145.
Salmos de Salomão: 72 e 127.
Salmos dos filhos de Coré: 42, 44 a 49, 84, 85, 87 e 88. Os filhos de Coré
formavam uma família de sacerdotes e poetas no tempo de Davi.
Salmos de Asafe: 50, 73 a 83. Asafe era um dos principais músicos de Davi. A família de
Asafe era encarregada da música de geração em geração.
Salmo de Etã: 89.
Salmo de Moisés: 90.
É provável que
em alguns casos, o nome atribuído ao autor de certos salmos possa referir-se
melhor ao compilador do que ao autor.
ORGANIZAÇÃO DOS SALMOS
Já sabemos que
os salmos 1 e 2 servem de introdução geral ao livro e que os salmos de ligação
são uteis para discernirmos o propósito do organizador. Que conclusões podem
ser tiradas deles quanto ao propósito e a mensagem do organizador?
O salmo 1 traça
a distinção nítida entre a conduta do justo e a do ímpio. Também fala de seus
respectivos destinos. Percebemos que o organizador apresenta com precisão um
dos temas principais dos salmos: o interesse pelo galardão dos justo e o
castigo dos ímpios.
O salmo 2
apresenta a idéia de que Deus escolheu o rei israelita e o defendeu das
conspirações dos reinos. Apresenta-se
aqui o aspecto nacional em contraste com o aspecto individual.
Esse dois níveis
de mensagem (individual e nacional) unem-se em Davi. Ele representa o justo
necessitado de apoio divino. Também é o rei de Israel por excelência, que
representa não só Israel, mas também todos os reis sucessivos de sua linhagem.
Seu amor a Deus levou o Senhor a escolhê-lo como rei e estabelecer a aliança do
Reino com ele.
PROPÓSITO E MENSAGEM
Cada autor
possuía um propósito especifico para compor um salmo. Os comentários mais
antigos sugerem a situação histórica por trás de cada salmo, mas essa prática
era altamente especulativa e não produziu resultados satisfatórios. É provável
que muitas composições tenham sido feitas para suprir necessidades litúrgicas.
Devemos estar
dispostos a considerar toda a gama de situações possíveis. Alguns salmos foram
motivados possivelmente por acontecimentos históricos específicos, por exemplo,
treze deles citam ocorrências históricas no título: 3, 7, 18, 34, 51, 52, 54,
56, 57, 59, 60, 63 e 142. Todos são da autoria de Davi. Outros devem ter sido
escritos para ocasiões litúrgicas distintas. Mas alguns podem ter sido
meditações pessoais. A questão é que não há propósito unificado ou mensagem
identificada como uma linha de pensamento unificada nos salmos.
DIVISÕES E TÍTULOS DOS SALMOS
Na sua edição
final, o Saltério continha 150 salmos. Quanto a isso, a Septuaginta e o texto
hebraico concordam, embora cheguem a essa cifra de modo diferente. A Septuaginta tem um salmo a mais no fim (mas não
com a numeração separada, como Salmo 151); além disso, une os salmos 9 e 10 num
só salmo, e faz o mesmo com os salmos 114 e 115, dividindo os salmos 116 e 147
em dois salmos cada um. É estranho que tanto a Septuaginta quanto o texto
hebraico numerem os salmos 42 e 43 como dois salmos, embora fique evidente que
originariamente eram um só.
O Saltério era
dividido em cinco livros (Salmos 1 a 41, 42 a 72, 73 a 89, 90 a 108, 109 a
150), cada um desses livros recebia uma doxologia final apropriada. Os dois
primeiros livros eram provavelmente pré-exílicos. A despeito dessa divisão em
cinco livros, o Saltério era claramente considerado uma só obra global, com uma
introdução (Salmos 1 e 2) e uma conclusão (Salmos 146 a 150).
Os salmos do
primeiro livro são atribuídos a Davi, exceto o primeiro, o segundo, o décimo e
o 33º, que são chamados de órfãos por não se conhecerem o nome de seus autores.
Na Septuaginta, os salmos que compõem o primeiro livro são atribuídos a Davi,
exceto o primeiro, que serve de introdução, e o segundo. O décimo está
incorporado ao nono e o 33º traz o título, “A Davi”. O nome divino de Jeová
aparece geralmente nos salmos que compõem esse livro.
O segundo livro
contém 31 salmos. Os primeiros oito fazem parte de uma coleção de cânticos
atribuídos aos filhos de Coré. O salmo 43, quer tenha sido escrito por eles,
quer não, foi composto para conclusão do salmo 42. Esse grupo é seguido de um
salmo de Asafe. Vem depois de um grupo de 20 salmos pertencentes a Davi, exceto
dois, o 66 e o 67; este último, porém, a Septuaginta o registra como sendo de
Davi. O livro fecha com um salmo anônimo e outro salomônico, 71 e 72. Nesse
livro predomina a palavra Elohim para
designar a pessoa divina, e dois salmos são duplicados de outros dois do
primeiro livro, nos quais a palavra Deus é substituída pela de Jeová (52, 70,
cf. 14 e 40.13-17).
O terceiro livro
contém 17 salmos. Os primeiros 11 são atribuídos a Asafe, quatro aos filhos de
Coré, um a Davi e outro a Etã. Os salmos desse livro foram colecionados depois
da destruição de Jerusalém e do incêndio do templo (74.3,7,8; 79.1).
O quarto livro
contém igualmente 17 salmos, o primeiro é atribuído a Moisés e dois a Davi; os
14 restantes pertencem a autores anônimos. A Septuaginta dá 11 a Davi, deixando
apenas cinco para autores anônimos, 92, 100, 102, 105 e 106.
O quinto livro
contém 28 salmos anônimos, enquanto que 15 são atribuídos a Davi e um a
Salomão. As inscrições diferem muito na Septuaginta. A coleção dos salmos desse
livro foi feita tardiamente porque inclui odes que se referem ao exílio, 126 e
137. Observa-se pois, que a composição dos salmos demandou grande período de
tempo.
Dos 150 salmos,
somente 34 não tem título. Esses chamados salmos “órfãos” acham-se sobretudo do
terceiro ao quinto livro, em que tendem em ocorrer em grupos pequenos: salmos
91, 93 a 97, 99, 104 a 107, 111 a 119, 135 a 137 e 146 a 150. No primeiro e no
segundo livro, somente os salmos 1, 2, 10, 33, 43 e 71 não tem título e, na
realidade, os salmos 10 e 43 são continuações dos anteriores.
TERMOS QUE EXPRIMEM O CARÁTER DO SALMO
Masquil: poema didático, ou refletivo.
Mictão: epigramático. Na literatura representa o gênero poético criado na
Grécia e popularizado em Roma, consistente em poesias curtas (alguns poucos
versos ou estrofes) de conteúdo concentrado e incisivo, de fácil memorização e
agradável leitura.
Mizmor: poema lírico.
Selah (Pausa): Esse é o termo técnico que mais aparece nos salmos. Aparece setenta e uma vez em trinta e nove salmos e três vezes em Habacuque 3. Visto que é impossível determinar se a colocação da palavra é original ou foi introduzida por editores ou copistas, seu objetivo preciso permanece incerto. Dentre as sugestões para seu significado está "pausa" ou "interlúdio", indicando um intervalo no texto ou na execução musical do salmo. Também é possível que seja uma deixa para o coral repetir uma afirmação, ou para um instrumento específico, possivelmente um tambor, fosse tocado para marcar o ritmo ou enfatizar uma palavra.
Selah (Pausa): Esse é o termo técnico que mais aparece nos salmos. Aparece setenta e uma vez em trinta e nove salmos e três vezes em Habacuque 3. Visto que é impossível determinar se a colocação da palavra é original ou foi introduzida por editores ou copistas, seu objetivo preciso permanece incerto. Dentre as sugestões para seu significado está "pausa" ou "interlúdio", indicando um intervalo no texto ou na execução musical do salmo. Também é possível que seja uma deixa para o coral repetir uma afirmação, ou para um instrumento específico, possivelmente um tambor, fosse tocado para marcar o ritmo ou enfatizar uma palavra.
CLASSIFICAÇÃO DOS SALMOS
A classificação
detalhada dos salmos é de difícil definição, visto que são altamente poéticos,
e um salmo pode tocar em diferentes temas. Porém podemos sugerir diversas
categorias:
Salmos teocráticos: 95 a 100.
Cânticos de degraus ou de romagem: 120 a 134. Cantados provavelmente, pelos
peregrinos subindo às festas anuais de Jerusalém.
Salmos de aleluia: 146 a 150.
Salmos acrósticos: 9,10, 25, 34, 37, 111, 112, 119 e 145. No hebraico a primeira letra de
cada linha, ou de cada estrofe, em ordem, segue a ordem do alfabeto hebraico.
No Salmo 119, cada estrofe tem 8 linhas e cada linha começa com a mesma letra
hebraica da sua estrofe. Esse salmo tem 176 versículos e em todos esses
versículos, a não ser em 3, menciona-se a palavra Deus. Referem-se a Palavra de
Deus como: Lei, Prescrições, Caminhos, Mandamentos, Preceitos, Juízos, Decretos
e Testemunhos.
Salmos messiânicos: os hinos da vinda do Messias: 2, 8, 16, 22, 45,
72, 89, 110, 118, 132 e outros.
Salmos penitenciais: 38,130, e 143.
Salmos imprecatórios: 69, 101, 137 e porções dos salmos 35, 55 e 58.
Nesses salmos, Davi pede a Deus, vingança contra seus inimigos e os inimigos de
Deus.
Salmos históricos: 78,81, 105 e 106.
Salmos de louvor: Os hinos são facilmente reconhecidos pelo seu exuberante louvor ao
Senhor. Deus é louvado pelo que ele é e pelo seu poder e misericórdia. Salmos
8,24,29,33, 47 – 48.
Lamentos: os lamentos expressam uma emoção oposta àquela de louvor. No lamento, o
salmista abre seu coração honestamente a Deus, um
coração muitas vezes cheio de tristeza, medo ou mesmo ira. Salmos 25, 39, 51,
86, 102 e 120.
CARACTERÍSTICAS LITERÁRIAS
O Saltério é
poesia do começo ao fim, embora contenha muitas orações. Os salmos são
apaixonados, vívidos e concretos; são ricos em figuras de linguagem, como por
exemplo as símiles e metáforas. As assonâncias, as alterações e os jogos de
palavras também são abundantes no texto hebraico. O uso eficaz de repetições é
característico, bem como o acúmulo de sinônimos e complementos para preencher o
quadro. Palavras-chave muitas vezes ressaltam temas de maior importância nas
orações ou nos cânticos.
A poesia
hebraica não tem rimas, nem métrica regular. Sua característica mais
diferenciada e comum é o paralelismo. O maior dos versos é composto de dois (às
vezes três) segmentos equilibrados entre si (muitas vezes, o equilíbrio não é
rigoroso, e o segundo segmento é em geral um pouco mais breve que o primeiro).
O segundo segmento ecoa, contrapõe ou complementa estruturalmente o primeiro.
Esses três tipos são generalizações e não são totalmente satisfatórios para
classificar a rica variedade que a criatividade dos poetas conseguiu realizar
dentro da estrutura básica dos dois versos. Podem servir, no entanto, de
distinções genéricas que ajudarão o leitor.
Saber onde os
versos (ou segmentos do verso original) em hebraico começam ou terminam é às
vezes, questão incerta. Até mesmo a Septuaginta divide os versos de maneira
diferente dos textos hebraicos hoje existentes. Não é de admirar, portanto que
as traduções atuais às vezes divirjam entre si.
TEOLOGIA DOS SALMOS
Assim como o
Saltério foi composto durante o período do Antigo Testamento, assim também a
teologia dos salmos é tão abrangente como a teologia do Antigo Testamento.
Martinho Lutero denominou o Livro dos Salmos de: “Uma Pequena Bíblia e o
Restante do Antigo Testamento”.
Os leitores
cristãos dos Salmos dão atenção especial à relação entre estes cânticos antigos
e Jesus Cristo. Após sua ressurreição, Jesus falou a seus discípulos que “importava que se cumprisse tudo o que sobre
mim está escrito na Lei de Moisés, nos Profetas e nos Salmos” (Lc 24.44). O
Antigo Testamento, inclusive os Salmos, aguardavam a vinda de Cristo, o seu
sofrimento e a sua glória. Jesus e os escritores do Novo Testamento fazem
extenso uso dos Salmos para expressar seu sofrimento (Mt 27.46) e a sua
glorificação (Mt 22.41 – 46). Além disso, Jesus foi revelado como objeto de
culto dos Salmos. Uma vez que Cristo é a Segunda Pessoa da Trindade, os hinos e
os lamentos dos Salmos são dirigidos a ele, assim como ao Pai e ao Espírito.
Jesus é ao mesmo tempo, cantor dos Salmos (Hb 2.12) e o seu principal tema.
SALMO 22 E O CALVÁRIO
O Salmo 22
apresenta o quadro do Calvário como nenhum outro. Aqui a crucificação é
retratada com mais clareza do que em qualquer outra passagem do Antigo
Testamento. Começa com o clamor do Senhor na hora mais negra da sua vida: “Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?”.
Termina com: “... foi ele quem o fez”.
O original hebraico significa: “Está consumado”, a última expressão de Cristo
na cruz.
No Versículo 6
deste salmo, está escrito: “Mas eu sou
verme, e não homem; opróbrio dos homens e desprezado do povo”, referindo-se
à afronta da cruz.
Leia e compare
estas passagens:
Salmos
22.1....................................... Mateus 27.46
Salmos
22.6-8.................................... Mateus 27.39,41,43
Salmos
22.12,13................................ Mateus 27.36,44
Salmos
22.8....................................... Mateus 15.23,24
“Como água me derramei, e todos os meus ossos
se desconjuntaram; o meu coração é como cera, derreteu-se no meio das minhas
entranhas” (22.14). Isso descreve transpiração excessiva por causa de
tortura física. Refere-se também ao coração partido de Jesus.
“A minha força se secou como um caco, e a
língua se me pega ao paladar; e me puseste no pó da morte” (22.15). Este
versículo descreve uma sede intensa.
“Pois me rodearam cães; o ajuntamento de
malfeitores me cercou, traspassaram-me as mãos e os pés” (22.16).
Crucificação, o método romano de morte por crucificação é descrito aqui neste
versículo. A lei judaica desconhecia esse método de castigo. As palavras
descrevem a morte por crucificação. Ossos das mãos, dos braços, dos ombros,
desconjuntados por ter sido o corpo pregado na cruz, distendendo ossos e
músculos.
“Repartem entre si as minhas vestes, e lançam
sortes sobre a minha roupa” (22.18). Até esse ato dos soldados é descrito
neste salmo. Leia Mateus 27.35.
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Livro de Provérbios
Autor: O Rei
Salomão é o principal escritor de Provérbios. Seu nome aparece em 1:1, 10:1 e
25:1. Podemos também presumir que Salomão coletou e editou provérbios de outros
escritores, pois Eclesiastes 12:9 diz: “O Pregador, além de sábio, ainda
ensinou ao povo o conhecimento; e, atentando e esquadrinhando, compôs muitos
provérbios.” Na verdade, o título hebraico Mishle Shelomoh é traduzido como
“Provérbios de Salomão”.
Quando foi escrito: Os provérbios de Salomão foram escritos em cerca de 900 AC. Durante o seu reinado como rei, a nação de Israel atingiu o seu auge espiritualmente, politicamente, culturalmente e economicamente. À medida que a reputação de Israel aumentou, a do rei Salomão também. Dignitários estrangeiros dos confins do mundo viajaram grandes distâncias para ouvir o sábio monarca falar (1 Reis 4:34).
Propósito: O conhecimento é nada mais do que uma acumulação de fatos brutos, mas a sabedoria é a capacidade de ver as pessoas, eventos e situações como Deus os vê. No Livro de Provérbios, Salomão revela a mente de Deus em assuntos superiores e nobres, assim como em assuntos ordinários e situações cotidianas. Parece que nenhum assunto escapou à atenção do rei Salomão. Questões relativas à conduta pessoal, relações sexuais, negócios, prosperidade, amor, ambição, disciplina, dívidas, educação infantil, caráter, álcool, política, vingança e piedade estão entre os vários temas abordados neste rica coleção de provérbios.
Versículos-chave: Provérbios 1:5: “Ouça o sábio e cresça em prudência; e o instruído adquira habilidade.”
Provérbios 1:7: “O temor do SENHOR é o princípio do saber, mas os loucos desprezam a sabedoria e o ensino.”
Provérbios 4:5: “adquire a sabedoria, adquire o entendimento e não te esqueças das palavras da minha boca, nem delas te apartes.”
Provérbios 8:13-14: “O temor do SENHOR consiste em aborrecer o mal; a soberba, a arrogância, o mau caminho e a boca perversa, eu os aborreço. Meu é o conselho e a verdadeira sabedoria, eu sou o Entendimento, minha é a fortaleza.”
Resumo: Resumir o livro de Provérbios é um pouco difícil, pois ao contrário de muitos outros livros da Bíblia, não há nenhuma conspiração ou enredo encontrado em suas páginas; da mesma forma, não existem personagens principais do livro. A sabedoria é o seu foco - uma sabedoria grande e divina que transcende toda a história, povos e culturas. Mesmo uma leitura superficial deste tesouro magnífico revela que os provérbios do sábio rei Salomão são tão relevantes hoje como eram há cerca de três mil anos atrás.
Prenúncios: O tema da sabedoria e da sua necessidade em nossa vida encontra o seu cumprimento em Cristo. Somos continuamente exortados em Provérbios a buscar, adquirir e compreender sabedoria. Provérbios também nos diz - e repete - que o temor do Senhor é o princípio do saber (1:7, 9:10). Nosso temor da ira e justiça do Senhor é o que nos leva a Cristo, nEle encontramos a personificação da sabedoria de Deus expressa no Seu glorioso plano de resgate para a humanidade. Em Cristo “todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento estão ocultos” (Colossenses 2:03). NEle encontramos a resposta à nossa busca por sabedoria, o remédio para o temor da justiça de Deus e a “justiça, e santificação e redenção” de que tanto precisamos (1 Coríntios 1:30). A sabedoria encontrada somente em Cristo está em contraste com a loucura do mundo que nos incentiva a sermos sábios aos nossos próprios olhos. Sendo assim, Provérbios também nos diz que o caminho do mundo não é o caminho de Deus (Provérbios 3:7) e só leva à morte (Provérbios 14:12 e 16:25).
Aplicação Prática: Há uma inegável praticidade encontrada neste livro, pois em seus trinta e um capítulos encontramos respostas sensatas a todos os tipos de dificuldades complexas. Provérbios certamente é o melhor “manual” já escrito e aqueles que têm o bom senso de seguir de coração as lições de Salomão vão descobrir rapidamente que piedade, prosperidade e contentamento estão disponíveis aos que pedem.
A promessa recorrente do Livro dos Provérbios é que aqueles que escolhem obter sabedoria e seguir a Deus serão abençoados de várias maneiras: com longa vida (9:11), prosperidade (2:20-22), alegria (3:13-18) e bondade de Deus (12:21). Aqueles que O rejeitam, por outro lado, sofrem vergonha e morte (3:35, 10:21). Rejeitar a Deus é escolher loucura à sabedoria e é separar-nos de Deus, Sua Palavra, Sua sabedoria e bênçãos.
Quando foi escrito: Os provérbios de Salomão foram escritos em cerca de 900 AC. Durante o seu reinado como rei, a nação de Israel atingiu o seu auge espiritualmente, politicamente, culturalmente e economicamente. À medida que a reputação de Israel aumentou, a do rei Salomão também. Dignitários estrangeiros dos confins do mundo viajaram grandes distâncias para ouvir o sábio monarca falar (1 Reis 4:34).
Propósito: O conhecimento é nada mais do que uma acumulação de fatos brutos, mas a sabedoria é a capacidade de ver as pessoas, eventos e situações como Deus os vê. No Livro de Provérbios, Salomão revela a mente de Deus em assuntos superiores e nobres, assim como em assuntos ordinários e situações cotidianas. Parece que nenhum assunto escapou à atenção do rei Salomão. Questões relativas à conduta pessoal, relações sexuais, negócios, prosperidade, amor, ambição, disciplina, dívidas, educação infantil, caráter, álcool, política, vingança e piedade estão entre os vários temas abordados neste rica coleção de provérbios.
Versículos-chave: Provérbios 1:5: “Ouça o sábio e cresça em prudência; e o instruído adquira habilidade.”
Provérbios 1:7: “O temor do SENHOR é o princípio do saber, mas os loucos desprezam a sabedoria e o ensino.”
Provérbios 4:5: “adquire a sabedoria, adquire o entendimento e não te esqueças das palavras da minha boca, nem delas te apartes.”
Provérbios 8:13-14: “O temor do SENHOR consiste em aborrecer o mal; a soberba, a arrogância, o mau caminho e a boca perversa, eu os aborreço. Meu é o conselho e a verdadeira sabedoria, eu sou o Entendimento, minha é a fortaleza.”
Resumo: Resumir o livro de Provérbios é um pouco difícil, pois ao contrário de muitos outros livros da Bíblia, não há nenhuma conspiração ou enredo encontrado em suas páginas; da mesma forma, não existem personagens principais do livro. A sabedoria é o seu foco - uma sabedoria grande e divina que transcende toda a história, povos e culturas. Mesmo uma leitura superficial deste tesouro magnífico revela que os provérbios do sábio rei Salomão são tão relevantes hoje como eram há cerca de três mil anos atrás.
Prenúncios: O tema da sabedoria e da sua necessidade em nossa vida encontra o seu cumprimento em Cristo. Somos continuamente exortados em Provérbios a buscar, adquirir e compreender sabedoria. Provérbios também nos diz - e repete - que o temor do Senhor é o princípio do saber (1:7, 9:10). Nosso temor da ira e justiça do Senhor é o que nos leva a Cristo, nEle encontramos a personificação da sabedoria de Deus expressa no Seu glorioso plano de resgate para a humanidade. Em Cristo “todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento estão ocultos” (Colossenses 2:03). NEle encontramos a resposta à nossa busca por sabedoria, o remédio para o temor da justiça de Deus e a “justiça, e santificação e redenção” de que tanto precisamos (1 Coríntios 1:30). A sabedoria encontrada somente em Cristo está em contraste com a loucura do mundo que nos incentiva a sermos sábios aos nossos próprios olhos. Sendo assim, Provérbios também nos diz que o caminho do mundo não é o caminho de Deus (Provérbios 3:7) e só leva à morte (Provérbios 14:12 e 16:25).
Aplicação Prática: Há uma inegável praticidade encontrada neste livro, pois em seus trinta e um capítulos encontramos respostas sensatas a todos os tipos de dificuldades complexas. Provérbios certamente é o melhor “manual” já escrito e aqueles que têm o bom senso de seguir de coração as lições de Salomão vão descobrir rapidamente que piedade, prosperidade e contentamento estão disponíveis aos que pedem.
A promessa recorrente do Livro dos Provérbios é que aqueles que escolhem obter sabedoria e seguir a Deus serão abençoados de várias maneiras: com longa vida (9:11), prosperidade (2:20-22), alegria (3:13-18) e bondade de Deus (12:21). Aqueles que O rejeitam, por outro lado, sofrem vergonha e morte (3:35, 10:21). Rejeitar a Deus é escolher loucura à sabedoria e é separar-nos de Deus, Sua Palavra, Sua sabedoria e bênçãos.